Ao contrário de outras edificações construídas especialmente para celebrar o 20 de setembro, no 30º Acampamento Farroupilha de Porto Alegre, o piquete Campeiros de Morungava convida o visitante a uma volta ao passado. Entre peças de metal usadas na lida campeira e objetos que marcaram uma época, há relíquias com mais de um século de história.
Leia mais:
Confira a agenda de shows e atrações no mês Farroupilha
Passageiros reclamam do ar-condicionado nos ônibus de Porto Alegre
Idealizador do antiquário gaudério, o patrão, Volnei de Farias Araújo, 53 anos, levou mais de 20 anos para compor o que considera a sua segunda casa. Participante dos festejos há 27 anos, ele, que durante o ano trabalha como freteiro e mora em Gravataí, se muda para o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Harmonia) por 40 dias — entre a primeira quinzena de agosto e a segunda de setembro. Dedicação necessária para montar e desmontar o museu, construído a partir das doações de amigos e de compras feitas pelo próprio freteiro.
— Comecei aqui com uma barraca e um reboque. Hoje, tenho o meu piquete do jeito que sempre sonhei. A ideia é apresentar aos visitantes coisas que, talvez, eles desconheçam – conta.
Minifazenda
Entre as peças seculares, uma sela de cavalo para mulheres, do século 19, comprada por Volnei de um morador de Pedro Osório. Candieiros antigos também dividem espaço com instrumentos usados no campo. É preciso tempo para ver tudo o que o pequeno museu do piquete oferece. Para compor o cenário, o freteiro mantém uma minifazenda na frente do prédio, com duas ovelhas, dois pôneis e dez coelhos.
– As crianças são as que mais se divertem. Tudo é novidade! – orgulha-se.
Volnei perdeu a conta da quantidade de peças disponíveis, que incluem até um carro-de-boi e uma patente de madeira, construída especialmente para apresentar como eram os banheiros de outros tempos. A quantidade pode ser imaginada nas dez viagens realizadas para a mudança e nos nove dias necessários para montar e desmontar tudo.
Família temporária
Para viver no espaço improvisado de 63 metros quadrados, localizado no número 365, Volnei conta com a ajuda de outros três amigos. Nos fundos do galpão, foram construídos quatro quartos e disponibilizado um banheiro químico. No espaço do museu há, ainda, um bolicho, onde o patrão vende bebida a quem chegar com sede de refrigerante ou cerveja. Garante ser uma forma de cobrir todos os gastos com a estadia, que ultrapassam os R$ 5 mil.
Numa rotina que inicia antes das 6h30min, com a alimentação dos animais da minifazenda, e se estende noite adentro, Volnei revela esperar por ela o ano inteiro. É quando garante voltar aos tempos de guri, no interior de Arroio Grande.
— Somos uma grande família de pessoas que só se encontram neste período do ano. Todos estão aqui pela mesma paixão. Não tem dinheiro que pague — garante, emocionado.
E quando chega ao portão do piquete, Volnei não para de acenar aos "vizinhos" de Acampamento. Um deles, o agricultor Jucelino Machado, de São Luiz Gonzaga, patrão do piquete Carreta Velha, tornou-se amigo da família e contribuinte do museu. Basta um aperto de mão para os dois esquecerem a lida na prosa sempre prolongada.
