Rudy Rupak, fundador da Planet Hospital, empresa de turismo médico com sede na Califórnia, nos Estados Unidos, nunca teve vergonha de se autopromover. Depois que sua empresa passou a oferecer barrigas de aluguel na Índia - e, em seguida, na Tailândia e no México - para casais ocidentais tentando lidar com a infertilidade, em diversas ocasiões ele levou o crédito pela disseminação global do procedimento de fertilização.
Porém, Rupak foi obrigado a declarar falência, após começar a ser investigado pelo FBI e perseguido por dezenas de clientes furiosos de todo o mundo, que o acusam de receber seu dinheiro e acabar com o sonho de iniciarem uma família. A prática de pagar uma mulher para carregar um embrião inserido em seu útero e ter o filho de outra pessoa tem crescido de forma constante ao longo da última década, embora ainda seja ilegal na maioria dos países.
Nos locais onde é permitida, muitas empresas - algumas com boa reputação, outras nem tanto - floresceram servindo de intermediárias entre clientes, doadoras dos óvulos, clínicas de fertilização in vitro e barrigas de aluguel. As famílias capazes de investir mais de 75 mil euros (R$ 225 mil) pelos serviços frequentemente recorrem a uma agência americana em algum estado onde as barrigas de aluguel são uma prática legal e comum. Quem não tem tanto dinheiro, vai à Índia ou ao México por meio de agências como a Planet Hospital, que cobram metade do preço.
A história envolvendo a Planet Hospital serve de alerta a respeito da proliferação de agências não regulamentadas, sua falta de responsabilidade e a capacidade de tirar proveito de clientes vulneráveis que querem tanto ter um bebê que não percebem todos os sinais de aviso. Centenas de novas empresas fazem propaganda desse serviço na internet, a despeito de seus antecedentes ou de sua experiência. As empresas surgem e desaparecem, por vezes reaparecendo sob um novo nome.
Na China, mulheres se transformam em prisioneiras
Em uma pequena sala de conferência com vista para o horizonte poluído da cidade, Huang Jinlai exibe sua oferta para a elite sem filho da China: por 180 mil euros (R$ 540 mil), é possível ter um bebê com o seu DNA, sexo preferido, nascido de uma agricultora paparicada, porém, prisioneira. O acordo é oferecido pela Empresa de Tecnologia em Medicina Baby Plan, com mais de 300 nascimentos de sucesso por ano.
Como na maioria dos países, a barriga de aluguel é ilegal na China. Porém, uma combinação do aumento da infertilidade, do recente relaxamento da lei do filho único e do imperativo cultural para ter filhos deu início a um próspero mercado negro que os especialistas afirmam produzir mais de 10 mil nascimentos por ano.
O mercado clandestino da China, com uma rede de aproximadamente mil corretores, quase sempre resulta em confusão. Em Wuhan, a Baby Plan oferece um programa mais caro, mas às vezes assustadoramente controlado. Para doar o esperma e os óvulos, os casais chineses voam até a Tailândia, onde a barriga de aluguel é legalizada. Uma mãe de aluguel também voa até lá e recebe o implante. Os três retornam à China e a mãe de aluguel é instalada em um apartamento com uma assistente em tempo integral. Se tudo correr bem, o bebê nasce em uma clínica particular, que tem um acordo com a Baby Plan para aceitar os documentos de identificação dos pais, legalmente registrando a criança como filho legítimo.