No Tecnosinos, o ambiente de trabalho tem lugar para o lazer e a convivência (Foto: Omar Freitas)

As mesas de xadrez e pebolim, videogames e até redes de descanso podem remeter ao ócio, mas não se deixe enganar: ali está um ambiente de trabalho. Bermudas e camisetas, blusas e saias formam o traje típico. Como na sede de famosas empresas de tecnologia, dois centros de inovação instalados em universidades gaúchas aliam o lazer à troca constante de ideias - parceria que tem rendido frutos.
Na semana passada, o Parque Tecnológico da Unisinos (Tecnosinos) e a Raiar, incubadora de empresas da PUCRS, foram eleitos os melhores no Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador, promovido pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) em parceria com o Sebrae, que leva em conta responsabilidade social e ética, valorização das pessoas, entre outros aspectos. Além disso, a Unisinos arrematou com a Unitec, incubadora da instituição, o prêmio global da The Technopolicy Network, um dos mais importantes do setor, que analisou iniciativas de 27 países.
Em ambos os casos, o ambiente é propício à criação de produtos e à parceria de iniciativas. Relativamente distantes dos grandes centros comerciais, mas parte de um polo de tecnologia, esses parques se tornam ideais para novos projetos.
- É um espaço onde as empresas sabem que, além da infraestrutura, há talentos. E são jovens daqui. Formá-los bem e despertar o interesse pela tecnologia é bom para a universidade, para o município, para as companhias. Todos só têm a ganhar - acredita a CEO do Tecnosinos, Susana Kakuta.
Estar em um centro como esses significa ter acesso facilitado a consultorias - empresarial e jurídica, por exemplo -, investidores e parceiros, fruto da vontade das universidades de fazer parte da inovação do mundo. Muitos alunos, depois de formados, acabam dando aulas, retransmitindo conhecimento e carregando o nome das instituições. As empresas também se beneficiam do espaço acadêmico e incentivam o aprimoramento das aulas para formar melhores profissionais.

Facilidades mas ainda com desafios
Da sala de aula para o escritório, são inúmeras iniciativas que se iniciam ali. Tecnologia da informação, engenharia, comunicação, saúde e energia têm espaço no Tecnosinos, enquanto projetos que têm a computação como foco são bem-vindos na Raiar. As palavras de ordem, porém, não mudam: tecnologia e inovação. Apesar de contarem com um terreno fértil, sobreviver depende principalmente das próprias empresas.
- Chegando aqui, você se dá conta de que agora é empresário e tem de aprender a gerir. Conseguimos mais credibilidade e oportunidades, mas enfrentamos os mesmos obstáculos de outras empresas - diz Adriano Oliveira, diretor comercial e sócio da SBPA, que desenvolve simuladores de voo e está desde 2008 no Tecnosinos.
No mesmo local em que protótipos e equipamentos dividem espaço, nascem parcerias que deixam a competição fora do campus. Existe um acordo tácito de não se recorrer ao "mercado externo". Assediar funcionários de companhias fora do parque, apenas se não há fornecedor capacitado no local.
Elaborados para voos mais altos
Como em um casulo que os abriga e prepara para o mundo, os incubados na Raiar, da PUCRS, estão prestes a ganhar asas. Eles chegam com ideias incipientes ao Parque Tecnológico e Científico da universidade (Tecnopuc), sempre tendo a inovação como foco, e lá são orientados a desenvolver suas empresas. Depois de um tempo, que pode variar de dois a quatro anos, graduam-se para buscar espaço.
O objetivo da incubadora é contribuir para a formação de novos empresários da tecnologia e transformar ideias em negócios. Para a universidade, é uma oportunidade de atrair mentes ao campus e estimular boas iniciativas, dando mais relevância à instituição. Para os jovens empreendedores, é a chance de crescer com estímulo.
- Temos acesso a serviços que teríamos de pagar lá fora, além do aluguel ser mais barato. Atualmente, não temos dinheiro para bancar tudo o que precisamos - avalia Flávio Pereira, um dos criadores da 8lab, que desenvolve aplicativos de trânsito e está na Raiar desde o ano passado.
A gerente da Raiar, Flavia Cauduro, explica que a atuação da incubadora é multissetorial, porém - assim como no Tecnosinos -, todas as empresas devem ter como características o apreço pela inovação e uma base tecnológica. O que diferencia as incubadas daquelas instaladas com sedes próprias nos parques é que ainda são projetos em desenvolvimento, em busca de visibilidade e investimento.
- Uma incubadora se justifica pelo retorno que dá à sociedade, em forma de produtos e serviços visionários, que vão gerar novidades tecnológicas e empregos - afirma Flavia. - Nossa função é ajudar na gestão, porque o conhecimento técnico eles já têm. Falta é apoio.
Gustavo Cancella Back é o responsável por uma das 26 empresas incubadas nas unidades de Porto Alegre e Viamão da Raiar. Hoje, concorrendo em um programa nacional de inovação, ele explica que já tinha desenvolvido o conceito. Faltava ajuda para alavancá-lo.
- Se eu sou o pai da ideia e a empresa é minha filha, então, a Raiar é a mãe - define o fundador da SmartLife.
