
O orgulho faz com que nos tornemos idiotas. Ao passar três dias trabalhando na fazenda Monestevole, de 40 hectares, situada no topo de uma colina na Úmbria, fui tomado por sentimentos presunçosos de realização. Estava regando uma pequena plantação de alcachofra, e as mudas de tomate que tinha plantado cuidadosamente no dia anterior quando um lavrador chamado Brad passou por mim com uma vaca. Eu queria que o Brad reconhecesse meus esforços, mas meu italiano se limita a pedir pratos em restaurantes e a fazer elogios entusiasmados a receitas de berinjela com parmesão.
Gesticulando, soltei um "Io io fatto", que eu esperava significar "Eu que fiz", mas que é mais precisamente traduzido como "Eu eu fiz". Brad olhou para mim, perplexo. "Opa!", meu cérebro calculou, "acho que o que eu acabei de dizer para ele foi 'eu sou o gordo'". Então, freneticamente, comecei a mexer as mãos como se estivesse plantando, ao que Brad disse: "Ah. Planta". Planta... Ele acenou com a cabeça, então acenei de volta. O aceno de Brad queria dizer "Bom trabalho". O meu aceno, "Mas eu estou muito bem para a minha idade, não é?".
Atribuo meu egoísmo às circunstâncias. Afinal, não estava hospedado em uma pousada de agroturismo qualquer. Estava na nova propriedade da Tribewanted, organização que cria comunidades sustentáveis com a venda de títulos de sociedade que custam US$ 16 por mês via internet para "os membros da tribo" que recebem poderes decisórios e pagam tarifas preferenciais quando ficam em suas propriedades (onde eles são incentivados, mas não obrigados, a ajudar nas tarefas).
A primeira comunidade que a Tribewanted fundou em Fiji, em 2006, não está mais sob os auspícios da organização, após o valor do arrendamento do terreno onde ela ficava localizada ter aumentado exorbitantemente. A segunda propriedade, em Serra Leoa, fica em uma praia ao lado de uma vila de pescadores. Uma nova comunidade da Tribewanted acaba de ser criada em Moçambique.
A Monestevole, por estar no mundo desenvolvido, é uma proposta um tanto diferente. Aqui, a esperança é de que a propriedade - capaz de acomodar 25 pessoas, inaugurada em abril de 2013, apenas duas semanas antes de eu chegar - torne-se autossustentável por meio de seus clientes pagantes, bem como pela venda do azeite e do vinho.
Longe da cozinha, perto da plantação
Uma enorme casa de pedra de três andares do século 15, rodeada por olivais, hortas, vinhas e pastagens para animais de criação, a encantadora Monestevole foi, no passado, o miradouro de um castelo que fica do outro lado da montanha. Lá nos sentimos como se estivéssemos em um forte militar simples, mas elegante.
Embora eu possa atribuir uma série de adjetivos à semana que passei na fazenda - relaxante, misteriosa, vagarosa -, nenhum deles parece ser tão preciso quanto autoprojetada e espontânea.
Cheguei pensando que poderia me voluntariar para ajudar na cozinha, mas quando minhas ofertas para cortar legumes ou lavar pratos foram sutilmente recusadas, percebi que eu seria mais útil como plantador de alcachofras e tomate. Assim, durante quase todas as manhãs e algumas tardes, dediquei algumas horas ao pequeno jardim ao lado da casa, no qual fui auxiliado por Filippo Bozotti, o belo e animado ex-documentarista de 33 anos que cofundou e hoje gerencia a Monestevole.
Delícia de improviso

Foto: Giulio Piscitelli/NYTNS
A princípio, fiquei frustrado com a natureza improvisada e instintiva. Com o tempo, porém, essa acabou se tornando a parte de que mais gostei. Apesar do café da manhã ser servido na sala de jantar repleta de madeira de carvalho das 7h30min às 10h, as outras refeições eram um tanto misteriosas.
Quando caía a noite, costumava ficar de olho no salão adjacente da sala de jantar, fingindo ler um livro, para não perder nenhum dos deliciosos jantares caseiros de legumes assados, massas saudáveis e carnes grelhadas. Havia outros detalhes difíceis de desvendar: por que a piscina ficou fechada durante minha estadia? Será que eu deveria regar o que plantei ou será que um dos sete ou oito trabalhadores da fazenda fazia isso? E por que quando eu ordenhava a vaca e, em seguida, fervia e bebia o leite, ele tinha gosto de chèvre-accino?
Por outro lado, houve momentos dos quais nunca vou esquecer. Em uma das tardes, enquanto eu cuidava do jardim, Bozotti gritou: "Ciao, Henry! Quer ajudar a passar os porcos para o outro curral?". Topei e corri para o celeiro. Quando Bozotti me entregou um forcado e disse: "Use a ponta da empunhadura para mostrar o caminho aos porcos - mas se a mãe deles começar a se aproximar de você, use a ponta do forcado", engoli em seco. E se não conseguisse virar o forcado rápido o suficiente? Felizmente, escapei sem fazer besteira.
Frutos do trabalho

Foto: Giulio Piscitelli/NYTNS
Igualmente memoráveis foram as atividades que envolveram Alessio Giottoli, o chefe da fazenda, que, com sua mulher, comprou Monestevole quando a propriedade não passava de ruínas, em meados da década de 1990, e a restaurou. O casal não trabalha mais ali, mas mora ao lado. De cabelos compridos e olhos arregalados, Giottoli, 39 anos, refere-se de forma charmosa a todos os homens como "Giordano" e a todas as mulheres como "Giordana".
No meu último dia, andei até os currais e o celeiro e disse adeus aos 10 leitões e cinco cavalos que visitava todo dia de manhã. Em seguida, vi como estavam as alcachofras, os aspargos e os tomates que havia plantado, e passei a vista na vinha que tinha ajudado a encaminhar. De tempos em tempos, durante a minha viagem, preparava esse inventário, fazendo uma espécie de contagem mental.
Agora, ciente de que estava deixando a fazenda e de que minhas tarefas passariam a outras pessoas, pude enxergar de fato minhas contribuições: pequeninas ondas no mar da Monestevole. Quando cheguei à fazenda, não via a hora de ter minha individualidade e meus esforços reconhecidos, mas, ao ir embora, percebi que era mais um Giordano em uma rede de Giordani. Hoje me sinto, em relação aos visitantes que me sucederem na fazenda Monestevole, como se fossem todos meus Giordaninni.
Como ir também
A Località Monestevole, monestevole.it, fica aberta durante todo o ano. As diárias variam de 60 euros por pessoa por quarto compartilhado com durante a baixa estação, até 100 euros por pessoa por um quarto privado com banheiro durante o verão.