Vida

Entrevista

"A solidão evoluiu como qualquer outra forma de dor", diz psicólogo John Cacioppo

Cacioppo é também diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago (EUA) e coautor de "Solidão: a Natureza Humana e a Necessidade de Vínculo Social"

Os efeitos surpreendentes dessa experiência exclusivamente humana que é a solidão são objeto de estudo de Cacioppo, que falou, em entrevista por e-mail ao Vida, sobre a importância dos vínculos sociais e sobre como podemos nos resgatar da dor do isolamento. Confira:

Qual a principal diferença entre o "estar só"e a solidão?
Estar só expressa o prazer de estar sozinho, enquanto que a palavra "solidão" expressa a dor de sentir-se sozinho. Milhões de pessoas sofrem diariamente de solidão, uma condição psicológica debilitante caracterizada por uma profunda sensação de vazio, inutilidade, falta de controle e ameaça pessoal. O isolamento físico pode contribuir para sentimentos de solidão, mas as pessoas podem ser solitárias em um casamento, família, ou multidão.

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Você costuma dizer que os seres humanos são seres "sociais com ponto de exclamação". Como você explica isso?
Nosso trabalho com imagens cerebrais, marcadores fisiológicos e análises de herdabilidade, nos permitiu colocar a solidão em um contexto evolutivo. No início de nossa história como espécie, o ser humano sobreviveu e prosperou apenas por viver em bandos - famílias, tribos e casais -, o que proporcionou proteção e assistência mútua. A solidão evoluiu, então, como qualquer outra forma de dor. Esse sinal de "solidão" serviu para nos alertar sobre a necessidade de renovar as conexões que precisávamos para garantir a sobrevivência e para constituir a confiança social, assim como a fome, a sede, a dor física.

Algumas pessoas têm predisposição à solidão?
Sim, a solidão é cerca de 50% hereditária, mas isso não significa que é determinada exclusivamente pelos genes. Uma quantidade igual é devido a fatores ambientais. O que parece ser hereditário é a intensidade da dor sentida quando a pessoa se sente socialmente isolada. Independente de ser sensível ou insensível, o importante é criar um ambiente que corresponda a essa predisposição. Se uma pessoa é especialmente sensível, então ela pode se beneficiar e melhorar sua saúde e bem-estar ao priorizar o desenvolvimento e manutenção de relacionamentos de alta qualidade.

As pessoas podem viver momentos de solidão mas se recuperar. Como diferenciar da solidão crônica, condição que pode prejudicar a saúde?
Determinadas situações podem aumentar o risco de uma pessoa se sentir só, como o término de um relacionamento, ser desrespeitada, ter conflitos que não são solucionados ou pouco contato com familiares e amigos. Essas situações podem diminuir a sensação de estar conectados com os demais, o que deve motivar as pessoas a buscar uma reconexão. Se essas tentativas não forem bem-sucedidas, o sentimento de solidão pode ficar desconectado da situação que o provocou, causando um problema crônico.

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