Em cartaz no Museu do Trabalho, a mostra O mundo segundo Jouralbo (serviço abaixo) reúne óleos, quadrinhos, layouts e artes finais produzidos para agências de propaganda entre as décadas de 50 e 1980 por Jouralbo Sieber.
O MUNDO SEGUNDO JOURALBO
Exposição de Jouralbo Sieber.
Museu do Trabalho (Andradas, 230), fone (51) 3227-5196, em Porto Alegre.
Visitação de terças a sábados, das 13h30min às 18h30min, e domingos, das 14h às 18h30min.
Até 24 de julho. Entrada franca.

O artista de 86 anos, que começou a carreira na Editora do Globo no longínquo ano de 1945, é o pai do cartunista Allan Sieber, que aceitou o convite de ZH para escrever sobre ele – e a relação entre os dois. Não apenas isso: Allan mandou um desenho inédito dos dois (acima). Leia o texto assinado por Allan Sieber a seguir.
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Aos 18 anos, em 1948, Jouralbo Sieber fez sua primeira e, até 21 de junho de 2016, única exposição. Saudado como um jovem talento da pintura gaúcha, o sujeito que fez o cartaz do evento não teve dúvida e cravou em letras garrafais: Juralbo Sieber.
Sim, não é fácil se chamar Jouralbo. Ou ser Jouralbo.
De temperamento irascível e fazendo sempre o que bem entendeu, Jouralbo fez parte da gênese da propaganda gaúcha, começando a trabalhar num tempo que isso quase se resumia a néons na rua. E se chamava "reclame", não propaganda. Começou como desenhista aprendiz na mítica Editora do Globo, trabalhando sob a tutela de Ernst Zeuner e convivendo com feras como João Fahrion, Mottini e Kuver, só para citar alguns. Depois, passou por diversas agências, ora como diretor de arte, ora como fotógrafo, sem criar vínculos com nenhuma. Uma espécie de selvagem que só fazia o que queria e com frequência fazia exatamente o oposto do que pediam, por conta de sua índole inquieta.
Esse período de "formação" nos anos 1940 e as décadas seguintes foram quadrinizados por ele mesmo, com roteiros feitos por mim baseados em horas de entrevista com Jouralbo e compilados no livro Ninguém me convidou (Conrad, 2010).
Depois disso, Jouralbo gostou da função e começou a me mandar cartas com novas histórias, dessa vez não só de cunho autobiográfico, mas extrapolando para o fantástico e até o esotérico. O resultado disso é O mundo segundo Jouralbo (Mórula, 2016), segundo livro com histórias de Jouralbo, o "estreante" em quadrinhos provavelmente mais tardio do mundo todo (alguém tem o contato do Guinness aí, por acaso?) e em atividade frenética. Mas, desta feita, ele foi esperto e falou que não desenharia tudo, então convidei amigos e desenhistas que admirava para dar conta do farto material.
A exposição em cartaz no Museu do Trabalho e o lançamento do livro fecham um ciclo de reaproximação minha com meu pai. Nossa relação, antes de 2005, era bem distante, ele sempre foi muito fechado, e eu, arredio (tive a quem puxar). Esses livros e essa exposição são nada mais que um pretexto para eu entender quem é essa pessoa que atende por Jouralbo, tem poucos amigos e que sempre trabalhou como um burro de carga para dar conta de seis filhos. Acho que nos entendemos mais, falando sobre quadrinhos, discutindo roteiros, leiautes, páginas, relembrando histórias e compilando causos. Posso até dizer que, finalmente, somos próximos, quem diria! Tive inclusive a suprema honra de desenhar lado a lado com ele, no meu estúdio no Rio, quando ele terminava as últimas histórias que lhe cabiam como desenhista. Ficamos lá eu e ele, cada um desenhando numa mesa, silêncio por horas eventualmente quebrado por um novo jorro de reminiscências de Jouralbo. A memória dele é prodigiosa, taí uma coisa que invejo. Eu esqueço até onde estão meus óculos (e eles quase sempre estão na minha cara), certamente isso não puxei dele. Mas, desenhando do lado dele, senti pela primeira vez uma cumplicidade de verdade, estávamos ali nós dois, imersos nos nossos desenhos, felizes por não ter ninguém nos enchendo o saco.
Gostamos disso, de desenhar e ficar quietos no nosso canto. E o tempo deu uma apaziguada na natureza selvagem de Jouralbo. Ele não quer mais enfrentar ninguém, ele só quer ficar na dele. Para alguém que se divertia batendo pregos com a própria mão só para causar um mal-estar, é uma evolução e tanto.
Meu filho Max chama Jouralbo de "vô velhinho", por conta de seu outro avô ser bem mais jovem. Nós três, eu, Jouralbo e Max, somos velhinhos desde sempre. Falamos pouco e gostamos de desenhar.
Veja alguns dos trabalhos de Jouralbo Sieber
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