
A pesar de ser uma nação jovem, a Austrália tem vasta tradição musical e orgulhos nacionais que vão muito além da associação aos clichês de Crocodilo Dundee e Mad Max. Sem contar que o país da Oceania abastece Hollywood com estrelas de primeira grandeza há décadas.
Sem a mesma tradição cultural, Honduras, por sua vez, é privilegiado pela herança maia: cartão-postal do país, a região das ruínas de Copán guarda algumas das maiores riquezas de toda aquela civilização centro-americana. Não é só isso que o pequeno país tem: vêm de lá poetas reconhecidos internacionalmente e filmes que têm, cada vez mais, participado de festivais europeus.
Eis, a seguir, um pouco do que já nos apresentaram culturalmente Austrália e Honduras, os países desta segunda reportagem da série Copa Cultural, sobre a produção de quem visitará Porto Alegre durante a Copa do Mundo.
AUSTRÁLIA
Notórios - Cate Blanchett, Geoffrey Rush, Nicole Kidman e Mel Gibson (estes dois últimos norte-americanos de nascimento, mas australianos de criação) já ganharam o Oscar. Não são, no entanto, os únicos astros que saíram da Austrália para fazer carreira em Hollywood. Pelo contrário: a lista é enorme e segue crescendo (e nem é preciso fazer referência à vizinha Nova Zelândia, de onde vêm Russell Crowe e Peter Jackson). O Coringa Heath Ledger e o Wolverine Hugh Jackman são da Austrália, assim como Eric Bana, Joel Edgerton, Chris Hemsworth, Mia Wasikowska e Margot Robbie (a mais nova revelação do país, também conhecida como a gata de O Lobo de Wall Street). Toni Collette fez fama em vários filmes e na série United States of Tara, mas, se há uma obra-prima com a qual ela está vinculada, é a animação Mary & Max - Uma Amizade Diferente (2009). Não podia, aliás, haver dica de melhor filme australiano do que esse longa dirigido por Adam Elliot.
Divertidos - O humor australiano é único. E determinante na produção cultural do país. Para se ter uma ideia, o Festival da Comédia de Melbourne, realizado anualmente, é tido como um dos mais importantes do mundo. Paul Hogan, o ator por trás do personagem-título da série de filmes Crocodilo Dundee (o original é de 1986), é apenas um dos comediantes que fizeram fama rindo dos australianos típicos. Barry Humphries é outro. Responsável por personagens de alcance mundial, como Dame Edna Everage, Humphries foi descrito pela autora britânica Anne Pender como "o mais significativo comediante do mundo desde Charles Chaplin".
Pops - Um eventual bate-papo com um australiano por ventura perdido a caminho do Beira-Rio pode engrenar com o assunto surf music. Afinal, o sujeito será do lugar de onde vieram Midnight Oil, Hoodoo Gurus, Spy vs. Spy, Yothu Yindi e Men at Work, entre outras bandas de grande sucesso nos anos 1980 e 90. Mas a riqueza musical do país, sobretudo no que diz respeito ao pop contemporâneo, é tanta que, bem, acompanhe: a banda AC/DC foi formada na Austrália, assim como o INXS; são de lá a cantora e compositora Kylie Minogue e o cantor e compositor Nick Cave, que ultimamente se juntou ao cineasta e seu conterrâneo John Hillcoat para realizar filmes em Hollywood (Hillcoat dirigindo, Cave escrevendo e compondo a trilha sonora), a exemplo de A Estrada (2009) e Os Infratores (2012). Voltando à música, para duas outras citações: cada uma a seu tempo, as cantoras de ópera Nellie Melba (1861 - 1931) e Joan Sutherland (1926 - 2010) foram celebridades em seu país; ativas atualmente e festejadas como destaques internacionais do indie rock, as bandas Jet, Cut Copy, Cat Empire, Wolfmother e Empire of the Sun também vêm da Austrália.
O Brasil no Horizonte - A bandeira do país tem o azul, o vermelho e também os traços geométricos que evidenciam a influência da Grã-Bretanha, da qual a Austrália foi colônia. Mas suas cores oficiais guardam semelhança com o Brasil: verde e amarelo. A combinação remete aos aborígenes que habitaram originalmente o território australiano e, especificamente, o golden wattle, espécie de emblema floral do país - a pequena flor amarela circundada de folhas verdes existe apenas em território australiano e figura, inclusive, no brasão nacional. É por isso que as seleções do país de todos os esportes usam o verde e o amarelo, ignorando as cores da própria bandeira nacional.
Top 5
Alguns ícones culturais australianos:
Uma obsessão: o outback, área desértica do país, é cenário recorrente na produção cultural local.
Um orgulho nacional: Sydney Opera House, casa de espetáculos visitada por 1,2 milhão de pessoas anualmente.
Um Nobel: O escritor Patrick White (1912 - 1990), autor de Voss (nasceu em Londres e viveu na Austrália desde os seis meses).
Uma escola: National Institute of Dramatic Art, que formou Cate Blanchett e Mel Gibson.
Alguns cineastas: Bruce Beresford, James McTeigue, Phillip Noyce, Peter Weir, John Hillcoat e Baz Luhrmann, entre vários outros.
HONDURAS
Históricos - A noroeste do país, quase na fronteira com a Guatemala, uma região se destaca como maior sítio de preservação da civilização maia. As ruínas de Copán ficam próximas à cidade de Santa Rosa de Copán e ao parque ecológico de mesmo nome - tudo tombado como patrimônio mundial pela Unesco. Há, entre outras riquezas erguidas do século 2 a.C. ao 9 d.C., a maior série de estrelas esculpidas para retratar os eventos históricos de sua época, um grande estádio de jogo mesoamericano e aquela que é tida pelos especialistas em América pré-colombiana como a mais significativa pirâmide da era maia.
Poetas - É larga a tradição de poetas nascidos e estabelecidos no pequeno país centro-americano - maior inclusive do que a dos ficcionistas, ao menos entre aqueles que obtêm projeção internacional. O nome mais conhecido universalmente é Rafael Heliodoro Valle (1891 - 1959), jornalista e historiador que morou durante muitos anos no México e nunca foi editado no Brasil. Mas o mais popular, em Honduras, é Roberto Sosa (1930 - 2011), o "poeta de los pobres", cujo livro Un Mundo para Todos Dividido, de 1971, ganhou o Prêmio Casa de Las Américas. Um volume de poesias mítico publicado em Honduras é Tierra, Mares y Cielos, que resume o trabalho de Juan Ramón Molina (1875 - 1908) e foi editado por Froylán Turcios (1874 - 1943), seu discípulo e outro grande das letras do país. Publicado em 1911, três anos após a morte de Molina, permanece como uma das referências do modernismo centro-americano.
Festeiros - Estima-se que, atualmente, pouco mais de 6% dos 8 milhões de habitantes do país sejam índios puros, sem qualquer tipo de mestiçagem. Essa tradição indígena, somada à influência africana e à colonização europeia, deu ao país uma miscigenação semelhante àquela verificada no Brasil - inclusive nas manifestações folclóricas que envolvem música, dança e festas populares, aí incluídas a Feria Juniana e o Carnaval Ceibeño, conhecido mundialmente como o "Carnaval de la Amistad" (o "ceibeño" refere-se à região de La Ceiba, no litoral do Oceano Atlântico, uma das mais populosas e históricas do país). Com muitos artistas de projeção exclusivamente nacional, a música popular hondurenha é marcada pela mistura de ritmos caribenhos e afro-antilhanos - em alguns casos, com instrumentos de percussão inventados e desenvolvidos na própria região. Do pianista de jazz de formação erudita Oscar Rossignoli à banda festeira (de nome autoexplicativo) Bohemios del Reggaeton, destacam-se o violinista Ángel Ríos, o cantor e compositor Chico Lara e o maestro Hunty Gabbe, entre outros.
O Brasil no Horizonte - Recentemente, dentro da programação do festival de cinema Fantaspoa, Porto Alegre recebeu sessões do filme El Xendra (2012), de Juan Carlos Fanconi. Trata-se de um dos longas-metragens hondurenhos de maior projeção internacional. A tradição cinematográfica do país é recente, mas significativa: desde 2002, quando foi ao Festival de Cannes representado por No Hay Tierra sin Dueño, Honduras produz longas quase todos os anos. No Hay Tierra... é um filme póstumo de Sami Kafati (1936 - 1996): foi rodado nos anos 1990 e finalizado após a sua morte. Safati, vale ressaltar, também foi o responsável pelo primeiro curta hondurenho, datado da década de 1960.
Top 5
Alguns ícones culturais hondurenhos
Um hit pop: Sopa de Caracol, da Banda Blanca.
Um ritmo musical: Punta, manifestação das culturas ameríndias do país que atingiu grande popularidade nas últimas décadas.
Uma surpresa: as óperas locais apresentadas no Teatro Nacional Manuel Bonilla.
Um monumento: Catedral de Tegucigalpa, de 1760.
Um autor histórico: José Cecilio del Valle (1780 - 1834), pensador que dedicou a vida à independência da América Central (foi presidente da República Federativa Centro-Americana, que existiu entre 1824 e 1839).