
Quanto custa consumir cultura em Porto Alegre? Estamos pagando muito mais caro para ver filmes, ler livros e ouvir música? Para tentar responder a essas perguntas, ZH destrinchou números e analisou dados para ver o quanto subiram os preços desses produtos na capital do Rio Grande do Sul. E a primeira área abordada pela série A Inflação da Cultura é o cinema.
Desde 2004, o preço do ingresso de cinema em Porto Alegre cresceu 109%. Ou seja, mais que dobrou. O aumento é bem maior do que a inflação de Porto Alegre no período, que foi de 71,7%. Os cálculos feitos pela Fundação Getúlio Vargas a pedido de ZH mostram que, só de janeiro a junho de 2014, a bilheteria dos cinemas na Capital já ficou 4,47% mais salgada para o consumidor, percentual bastante parecido com o aumento geral dos preços na cidade nos primeiros seis meses do ano: 4,13%.
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Para o economista André Braz, analista de inflação da FGV, os preços acima da média não são exclusividade do cinema, mas uma tendência que se vê na maioria dos serviços. Ele avalia que a ascensão da nova classe média pode ter colaborado para que isso acontecesse:
- O crescimento da classe média aproximou vários serviços de novos consumidores. Esse aumento da demanda está contribuindo para o aumento de preços, pois o segmento não cresceu na mesma magnitude. Além disso, a mão-de-obra anda escassa, o que pode ser visto pela taxa de desemprego que está baixa. Isso aumenta o poder de barganha do trabalhador por aumentos salariais e parte desses aumentos é repassada para os preços.
Dados do Filme B, portal que é referência em análise do mercado cinematográfico, mostra que em 2004 a média de preço dos cinemas brasileiros era de R$ 6,68. Em 2012, esse valor pulou para R$ 11,01.
As notícias, porém, não são de todo negativas. Há quem prefira analisar outros fatores para mostrar que a situação pode ter até mehorado. Paulo Sérgio Almeida, diretor do Filme B, aponta que, em relação aos salários, o preço ficou até mais em conta.
- Eu acho que o preço está compatível com a nossa realidade. É por isso que o público vem crescendo há sete anos. A análise tem que ser comparativa: o que o consumidor das classes C e D conseguem fazer pelo preço de um ingresso de cinema? Historicamente, o preço do cinema sempre foi compatível com o preço do futebol. Hoje, o ingresso para ir ao estádio disparou, diferentemente do cinema - avalia.
No início de 2004, o salário mínimo era de R$ 260. Desde o ano passado, é de R$ 724. Ou seja, 178% maior. Se o preço do ingresso de cinema aumentou 109%, o poder de compra está mais alto. Não à toa, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) comemora recordes de público desde 2009, quando o número de espectadores nas salas brasileiras rompeu a barreira dos 100 milhões - e muito bem: foram 112,7 milhões de cinéfilos em todo o país. Depois disso, o número só fez aumentar, até chegar aos 149,5 milhões de 2013. É evidente que isso levou a uma renda cada vez maior: se em 2008 as salas brasileiras arrecadaram cerca de R$ 727 milhões, no ano passado esse valor chegou a R$ 1,75 bilhão. Ainda assim, os cinemas buscam alternativas: filmes passaram a estrear nas quintas-feiras para tentar aumentar o número de pessoas nas salas durante a semana e outras atrações agora são exibidas nas telonas, como shows e jogos de futebol.