Quando comecei a fazer teatro, 40 anos atrás, era recorrente o comentário de que havia poucos atores na cidade, em uma cena dominada pelo talento de atrizes estupendas. Este quadro mudou. Carlos Cunha Filho, Roberto Oliveira, Evandro Soldatelli, Zé Adão Barbosa e Luiz Paulo Vasconcellos estão aí e não me deixam mentir. Sem falar em Marcelo Adams, o melhor ator gaúcho de sua geração, pronto para encarar todos os desafios do palco contemporâneo.
Mas este ano, como lá atrás, mulheres hipnóticas dominaram o Porto Alegre Em Cena do começo ao fim. Uma coisa é certa: homens e mulheres do teatro gaúcho apresentaram notável evolução nessas quatro últimas décadas, catapultando nossas criações às melhores do país. A inteligência talentosa é a parte do Rio Grande da qual me orgulho.
Nossa propensão irracional aos extremos, por outro lado, merece repúdio veemente. Quem foi ao Araújo Vianna lotado para ver a Orquestra Arte Viva e Toquinho testemunhou um momento surreal. Antes do concerto, subi ao palco para celebrar a apresentação. Comecei saudando o prefeito e sua esposa, presentes no local. Uma vaia inesperada interrompeu minha fala e se estendeu ao patrocinador que nos presenteara. Comigo não, violão! Ali, no encerramento do festival, tal manifestação se reduzia somente à falta de educação, respeito e civilidade. O público, em bem-vinda maioria, não endossou tais grosserias e me ajudou a reverter a situação. Fui calorosamente aplaudido ao lembrar os costumes gaúchos de tradição e hospitalidade.
Grossuras masculinas que hostilizam cidadãos nivelam homens a cavalos. Não. Os cavalos, nobres animais de fina estampa, não merecem tal comparação. Que terra é essa, onde uma rapaziada barulhenta não sabe conviver nem respeitar o que merece respeito? Raciais, sexuais ou políticas, é preciso aprender a conviver civilizadamente com todas as diferenças, ou seremos reconhecidos, nós gaúchos, como os novos trogloditas de plantão.
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