O truque do seriado Friends foi captar essa verdade: somos os amigos que fazemos e que nos fazem. Não os amigos de ocasião, os que a gente convive por um tempo e nunca mais. Não esses. Os outros. Aqueles que a gente encontra um dia, e as nossas almas trocam cartões de visitas (quem criou essa maravilha obviamente não fui eu, foi Machado).
Friends foi um daqueles acertos cósmico- químicos que fazem uma boa ideia se tornar uma série transcendental. Uns roteiristas do outro mundo, um grupo de atores que virou um grupo-símbolo da amizade da primeira fase adulta, aquela amizade forjada na batalha da nossa afirmação no mundo.
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A farra durou 10 anos, e o meu grupo de amigos se encontrava todas as semanas, e juntos assistíamos a nós mesmos, em outra língua e em um cenário um tanto mais charmoso do que a nossa terrinha natal.
Mas, como tudo é verdadeiramente falso, Friends se passava em uma Nova York de todos nós, sendo filmado em Hollywood. O primeiro episódio a que assisti me derrubou e se tornou um dos clássicos, aquele em que Ross fica em pânico ao ver o filhinho, Ben, brincando com uma Barbie.
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O final, um Super-8 familiar fake é uma das coisas mais brilhantes feita ao sul ou ao norte do Equador, em qualquer época, ladies and gentlemen. Friends parecia bobinho e não era. Havia humanidade, havia carisma, carinho - ou, em bom nova-iorquês, pizzaz.
Em 10 anos que começaram ainda sob efeito dos cabelos e jeans com cintura lá em cima, remanescentes dos anos 1980, Friends nos conduziu desde uma juventude ainda excessiva até o momento em que começamos a perceber que tudo tem fim, e então o seriado acabou. Sabiamente.
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Essa época do ano deixa todo mundo com a sensibilidade em estado de alerta vermelho. Pois a minha sugestão a todos é simples: deixem pra lá os muitos compromissos, as muitas festas nas quais vocês vão se sentir fora dágua, deixem até a água de lado, e fiquem uns dias em algum lugar tranquilo na companhia luxuosa das caixas de DVDs de Friends.
Claro que tem no Netflix, mas não é a mesma coisa. Friends, como aspirina e Maizena, só em caixa. Mergulhem na atmosfera intensa de nossas amizades, de nossa jovem adultice. Mergulhem no mundo das pessoas que significam tanto que, quando se vão, uma parte de nós fica faltando de forma definitiva. Mergulhem levando junto um bote e um Keep Cooler sabor pêssego, mas mergulhem. O importante, nas caixas, e nas amizades, é o mergulho. Portanto, um bom tchibum a todos, e um feliz 2015, porque ele vem, ele vem, ah, ele vem.