
O contrato de D'Alessandro com o Inter termina no fim deste ano. Depois de uma temporada emprestado ao River Plate em 2016, voltou ao Beira-Rio para defender o time na Série B do Brasileirão. Com o fim do vínculo próximo, colunistas e comentaristas discutem a possibilidade do argentino seguir no Inter em 2018.
Leia mais:
Sem D'Alessandro e Camilo, Juan pode ganhar chance contra o Juventude
Gilmar Dal Pozzo: "Inter comprou a ideia da Série B: agora, marca e joga"
Leandro Damião elogia jovem armador Juan: "Ele é diferenciado"
Pedro Ernesto, narrador da Rádio Gaúcha e colunista de ZH
Sim, o Inter deve renovar com D'Alessandro. Os números que ele está conseguindo realizar este ano ainda são muito significativos. Ele é o terceiro jogador que mais atuou no Inter até aqui nesta temporada. A intenção do D'Alessandro é jogar profissionalmente por mais dois anos, ainda que com redução física acentuada. Ele aposta na sua capacidade técnica. O que será revisto é o salário do jogador. Quando ele fez o contrato vigente, era a superestrela do time e ganhou muita grana. Agora, o novo contrato será de final de carreira. Falta ver se ele vai querer.
Leonardo Oliveira, colunista de ZH
Não, o Inter não deve renovar com D'Alessandro. Porque o Inter precisa olhar para a frente, reinventar-se, criar novos símbolos e referências, alimentar novos líderes. Nos últimos anos, o clube insistiu em buscar nos ídolos do passado a solução de seus problemas emergenciais. Usou esse paliativo como compensação a sua inaptidão para se reinventar. D'Alessandro sempre foi presente no Inter. Embora o passar dos anos faça com que se torne passado mesmo estando na ativa. A torcida do Inter, quando o vê com a camisa 10 em campo, enxerga não o jogador de hoje, com as limitações dos 36 anos, mas o craque de quatro, cinco anos atrás. Enxerga o passado olhando o presente, e esse descompasso pode arranhar a imagem de um ídolo.
Ninguém passa incólume pelo tempo. Nem mesmo os craques. D'Alessandro, aos 36 anos, dá sinais de fadiga, mostra limitações que o fazem ser menos do que já foi. Suas atuações na Série B, em que o nível técnico é menor, já não ostentam o mesmo relevo daquelas temporadas de luxo. É evidente que ele segue como uma referência, um jogador distinto dos demais. Mas é preciso medir o quanto disso é construído com a bola nos pés e o quanto vem da estatura que nutriu em nove temporadas no Beira-Rio.
A grande questão é se o Inter está pronto para a sucessão de D'Alessandro. Quem ocupará o vácuo que ele deixará? O clube prepara um novo líder no vestiário para fazer a ponte entre o time e a direção? Quem será a fonte de segurança no campo quando a bola começar a queimar? Em 2016, Viorio Piffero e Carlos Pellegrini achavam que podiam viver sem a liderança de D'Alessandro, e deu o que deu. Se o Inter de agora está pronto para isso, deve encerrar em dezembro o ciclo de um jogador que entrou para a galeria dos maiores, ao lado de Carlitos, Figueroa, Falcão e Fernandão.
Maurício Saraiva, comentarista da RBS TV e Rádio Gaúcha e colunista de ZH
O Inter deve renovar com D'Alessandro, sim, caso o argentino se disponha a mais um ano de carreira. O clube fará um gesto de grandeza ao propor renovação ao seu camisa 10. Ao chegar, em 2008, D'Alessandro conduziu o Inter ao inédito título da Sul-Americana. No ano em que não esteve no clube, houve o rebaixamento. Na temporada seguinte, tudo leva a crer que o acesso será alcançado, e o Inter voltará ao seu lugar. D'Alessandro é o protagonista possível desta volta. Agora mesmo está lesionado, nem deve jogar contra o Juventude. Lesão muscular, nada mais natural. Porém, quando está em campo, o gringo dá tudo o que tem. Sempre foi assim, mas é justo louvar que esteja acontecendo na hora ruim. D'Ale podia tirar o pé, se fosse menos profissional. Afinal, os adversários não estão de acordo com o tamanho com que D'Alessandro se acostumou. Que nada; ele deixa tudo no campo. Então, há dois cenários para 2018: D'Alessandro conclui que já fez tudo o que tinha que fazer no Inter e para. Virará estátua, tamanha sua idolatria. No outro cenário, ele joga mais uma temporada. Neste caso, o Inter tem o dever de propor renovação ao seu protagonista. Gratidão, sim, nada de compaixão. Merecimento.
Luiz Zini Pires, colunista de ZH
Tocar em D'Alessandro é sempre delicado. O icônico meia argentino vive nos céus do Beira-Rio, ao lado de outras divindades da casa colorada de 48 anos. Falar do seu passado é fácil e prazeroso: 380 jogos, 82 gols, seis títulos do Gauchão, Libertadores, Sul-Americana, Recopa.
Desde 2008, o nome do argentino esteve ligado ao Inter. Falar de um é tocar no outro. Sua entrevista, polêmico que é, sempre dá água na boca do jornalista. Gera prazer ao colorado. Azeda o gremista. A dualidade Gre-Nal é motivada também pelos microfones.
Projetar o futuro do camisa 10 é mais difícil. É voar no instável avião da futurologia. Aos 36 anos, 17 de carreira, D'Alessandro encerra seu vínculo econômico com o clube em dezembro. A direção colorada deseja estender o contrato. O jogador deseja ficar.
O perigo mora aí. Perto do final da carreira, um jogador aposta alto, sendo ídolo ou não. Nem sempre acha o dia certo reservado à aposentadoria. Às vezes, busca um fôlego que não tem mais. Saber parar é decisivo para um ídolo que deseja seguir carreira no clube em nova função. O Inter não trata bem seus ex-jogadores históricos.
Não sei se é o caso de D'Alessandro. Ele fez 38 jogos dos 51 do time em 2017. Acho que pode mais, mesmo com menos protagonismo. Os ponteiros do relógio, porém, aproximam-se velozmente dos 90 minutos da sua longa carreira. Ele precisa saber como lidar com os descontos.
Diogo Olivier, comentarista da RBS TV e Rádio Gaúcha e colunista de ZH
Se estiver no patamar em que está agora no final do ano, sim. E, com certeza, estará. Ele tem dado resposta tecnicamente, com gols e assistências. Além do mais, pode ser aproveitado em apenas parte das partidas, sem jogar o tempo todo. É dessa maneira que os mais têm de ser aproveitados. No caso de D'Alessandro, que é responsável do ponto de vista atlético, pois se cuida e nunca está acima do peso ou destreinado, 60 minutos dele em campo podem valer mais do que 90. É uma questão de potencializar as suas condições. Com jogadores bem acima dos 30 anos, é fundamental esta compreensão de parte do clube e do próprio jogador. D’Alessandro já deu mostra de que topa não sair jogando sempre, entrando mais adiante. A avaliação desse processo todo tem de ser de ano em ano, em razão das questões fisiológicas mesmo. Quanto mais perto dos 40 (D'Ale tem 36), aumentam as chances de o fim chegar rapidamente. Hoje, portanto, eu renovaria para 2018 com D'Alessandro.
*ZHESPORTES