
Certamente este não é o único espaço de opinião a repudiar os discursos da dupla Gre-Nal após o episódio da lesão de Bolaños, no clássico de domingo. Este texto é um alerta sobressalente. Além de jogar gasolina em uma discussão já inflamada que não irá a lugar nenhum, a cada vez que um dirigente tricolor falou em Bolaños desde domingo, lamentei não ter ouvido o nome do San Lorenzo. Sintoma de uma doença crônica no Tricolor, o desculpismo.
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O desculpismo é um zika vírus de times que estão sempre prestes a obter títulos, mas que em vez de conquistá-los sob quaisquer adversidades, se contentam com uma boa desculpa para não obtê-los. A taça está logo ali, mas assim que a desculpa aparece, o aedes do desculpismo pica e o time imediatamente perde forças e se acomoda. Se perguntar por que não venceu, todos sabem: foi o juiz que roubou, foi o centroavante que não jogou, foi a bola que não entrou, foi o regulamento que mudou, foi o outro time que estava em uma noite iluminada.
Não é apenas o Grêmio que pode sofrer de desculpismo. O próprio arquirrival sofreu do mal por décadas. Lembram do fatídico Brasileirão de 2005? Até hoje o Inter reclama o título de campeão moral daquele ano em razão do Zveitaço que deu ao Corinthians uma segunda chance de se aproximar do Colorado na tabela. Febril com uma desculpa tão perfeita, agravada pelo não pênalti em Tinga algumas rodadas depois, o time perdeu para os frágeis Paraná, Juventude e Coritiba, mas ainda assim fez uma volta olímpica no Couto Pereira. Sim, o desculpismo provoca delírio a esse nível. Em 2006, pelo visto, providenciou uma vacina.
Não é exagero dizer que a imunidade ao desculpismo difere times vencedores dos demais. Já imaginou o que seria do Corinthians de Tite, em 2015, se sofresse desse mal quando Paolo Guerrero se foi, e o centroavante reserva Luciano, recém convocado à seleção olímpica, rompeu os ligamentos do joelho? Quer desculpa melhor para não vencer o Brasileirão? Pois venceu com folga. Nesta temporada, com o time completamente desmantelado, o Corinthians soma dois jogos e duas vitórias na Libertadores. Desculpas não somam pontos na tabela.
No Grêmio, ao longo da última década, o desculpismo é crônico. Quando fica em segundo ou terceiro lugar no Brasileirão, a desculpa mais recorrente é de que o time, modesto, até foi além das expectativas, e um outro time supostamente imbatível (o São Paulo, o Cruzeiro, o Fluminense...) sempre tomou a dianteira. Quando investe e joga a Libertadores do ano seguinte, a desculpa é o centroavante que se foi na véspera (Jonas, em 2011) ou os gols-chave que não entraram (de Vargas, em 2013, ou de Barcos, em 2014). Em seguida, o técnico é demitido, o time desmanchado, e as desculpas do time modesto recomeçam.
*ZHESPORTES