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Antes de assumir

Briga por IPTU expõe ruído na gestão de Marchezan

Aumento no desconto anunciado pelo prefeito eleito de Porto Alegre ampliou embate com a atual administração e mal-estar com aliados

Fábio Schaffner

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Ao não consultar aliados antes de prometer o aumento no desconto do IPTU de Porto Alegre, com prazo de pagamento alongado, o prefeito eleito Nelson Marchezan fez crescer incômodo dos partidos que colaboraram para sua eleição.

O hábito de tomar decisões sozinho, conjugado com a demora na distribuição de cargos no primeiro escalão, alimenta rancores.

Na segunda-feira, todos foram surpreendidos com a repentina mudança de postura em relação ao IPTU. Antes de convocar entrevista coletiva para apresentar a medida, Marchezan consultou apenas seu futuro secretário da Fazenda, Leonardo Busatto. Foi ele quem passou ao tucano as projeções de estimativa de receita com o novo abatimento, deixando a cargo do chefe a decisão. Mesmo o vice-prefeito eleito, Gustavo Paim (PP), foi apenas comunicado que o anúncio seria feito.

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A surpresa foi generalizada porque o tucano havia refutado a ideia antes. Quando Fortunati anunciou o desconto de 12% e Marchezan ameaçou recorrer à Justiça, conselheiros recomendaram que evitasse enfrentamento. Sugeriram a extensão do prazo de pagamento para atrair os contribuintes.

O tucano rechaçou, e pediu medida cautelar no TCE, mas acabou derrotado. Nesta terça-feira, foi o Ministério Público de Contas (MPC) quem pediu ao TCE liminar para impedir o abatimento de 15%.

Na Câmara de Vereadores, insatisfação retarda mudanças no secretariado

– Marchezan não ouve ninguém, nem o próprio vice, que aliás foi escolhido por ele, à revelia do PP. Tem muita gente magoada com esse isolamento – comenta um integrante do PSDB.

A mágoa com o comportamento do futuro prefeito começa a repercutir na Câmara de Vereadores. Na semana passada, a base de sustentação do tucano demonstrou sua insatisfação ao retirar o quórum da sessão na qual seriam votados projetos de reestruturação administrativa, reduzindo a 15 o número de secretarias. A situação obrigará Marchezan a fazer convocação extraordinária no recesso para que as propostas sejam apreciadas.

Ou então, o novo prefeito terá de ficar 30 dias com o secretariado no formato antigo. Alguns parlamentares estão descontentes com as recusas do tucano às indicações políticas e com a exigência de submeter currículos ao banco de talentos criado pela nova gestão.

– O que ele está pensando, que a prefeitura é uma empresa? – questionou um vereador aliado.

Legendas fundamentais para a vitória do tucano, como PP e PTB, reclamam que as reuniões do conselho partidário, frequentes durante a campanha, foram abandonadas. Toda a nova estrutura da prefeitura, por exemplo, foi criada a partir de conversas de Marchezan com instituições de consultoria, sem ouvir os parceiros políticos.

Os partidos têm consciência de que é necessário reduzir a máquina e que não há mais espaço para 37 secretarias, como no governo Fortunati, mas esperam ser reconhecidos pelo trabalho durante a eleição. Alguns expoentes da campanha classificam como "fiasco" a possibilidade de Marchezan tomar posse sem ter os secretários nomeados e alertam para os riscos que uma equipe eminentemente técnica, sem políticos, pode significar.

– Governo técnico, sem pessoas que conheçam a cidade e suas comunidades, não começa bem. Marchezan não pode negar a política, até porque não foi eleito somente pela sociedade sem partido. Também ajudamos muito – comenta um líder partidário.

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