
Com fama de durão no controle dos gastos públicos, a confirmação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda arrancou elogios de analistas e empresários e funcionou para acalmar o mercado que há tempos andava de mau-humor com o governo. Quem não ficou contente com a indicação foram os petistas que não esquecem o passado tucano do executivo.
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Apesar de ter atuado como secretário do Tesouro durante o primeiro mandato do presidente Lula, Levy não venceu a desconfiança de parte do partido em relação às suas convicções políticas. Depois de atuar no Ministério do Planejamento no governo Fernando Henrique Cardoso até 2001, a aproximação com o PT ocorreu em 2002, por intermédio de Pedro Malan. O ex-ministro da Fazenda de FHC indicou Levy para Antonio Palloci, que procurava um nome que ajudasse a dar credibilidade para o governo recém-eleito.
A carreira do carioca mostra que ele é de fato um homem de Chicago, o que agrada bastante o mercado. Com doutorado na mais liberal das escolas americanas de economia, Levy professa em suas entrevistas e artigos opiniões em sintonia com Milton Friedman e George Stigler, dois dos maiores defensores do livre mercado. Perfil bem diferente de Mantega, e da própria presidente Dilma, de convicções bem mais desenvolvimentistas.
A divergência de ideias entre os dois ficou clara em entrevista de 2006 quando Mantega afirmou que a defesa de Levy pela contenção de gastos representava uma visão "conservadora, não sintonizada com a política social do governo Lula". Um ano antes, quando Levy defendeu uma taxa de juros de longo prazo (TJLP) foi chamado de "financista".
Não à toa, a principal resistência a Levy parte das alas mais à esquerda no PT, que tem o governador Tarso Genro (RS) e o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) como principais expoentes. O economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luiz Gonzaga Belluzzo, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, e o teólogo Leonardo Boff chegaram a publicar uma petição pública em que, juntos com outra 58 pessoas, rechaçam a indicação de Levy para a Fazenda.
A aparente desarmonia entre pensamentos foi expressa também pelo senado Aécio Neves, principal adversário de Dilma na disputa eleitoral. Após um discurso inflamado cobrando do Congresso uma ação contra o descontrole do governo com as contas públicas e a responsabilização da petista, o tucano afirmou que a ida de Levy para a Fazenda seria o mesmo que colocar um agente da norte-americana CIA no comando da soviética KGB.
AS IDEIAS DE LEVY
SALÁRIO MÍNIMO
É contrário à política de valorização do salário mínimo adotada atualmente pelo governo, que não leva em consideração avanços na produtividade, e sim o ritmo da economia e da inflação. Ainda no primeiro mandato de Lula, quando secretário do Tesouro, travou embates com Guido Mantega, então presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que criticava a visão "conservadora" de Levy e a falta de sintonia com as políticas sociais do governo.
CONTAS PÚBLICAS
Como secretário do Tesouro no governo Lula, ganhou a fama de durão no controle de gastos públicos. Defende que a meta de superávit primário deve ser perseguida sem artifícios e com transparência, mantendo-se o objetivo de reduzir a dívida pública bruta ao longo do tempo. Argumenta que uma dívida menor permitiria ao governo pagar menos juros e concentrar esforços na simplificação da carga tributária.
INDÚSTRIA
Levy defende benefícios e incentivos concedidos a grupos economicamente semelhantes, desde que "transparentes no orçamento público" e acompanhados de metas claras e verificáveis de desempenho e avaliação dos resultados. Argumenta que deve-se privilegiar políticas sociais focalizadas na escolha dos grupos beneficiados, e não no consumo de bens específicos.
BANCOS PÚBLICOS
Para Levy, o banco público complementa o privado no papel de financiar e mover a economia. Afirma que quando se olha a contribuição do setor financeiro para programas públicos, é sempre importante o foco no longo prazo.
MERCADO
É contra a implantação de pacotes econômicos. Em vez disso, defende uma política de previsibilidade e a definição de uma estratégia que "o mercado entenda", adotando objetivos claros, anunciados e implementados de forma transparente.
JUROS
Em entrevista à Revista Investidor Institucional, Levy defendeu que a recente alta na taxa de juro é "positiva na medida em que sinaliza o compromisso com a estabilidade de preços". Ressalta que para redução da taxa é preciso a adoção de um conjunto de políticas que permita os juros baixarem de maneira persistente e segura, tornando os investimentos de longo prazo cada vez mais atraentes.
CENÁRIO INTERNACIONAL
Avalia que há um cenário doméstico e externo diferente de 2010 e que o menor crescimento da China deve exigir mais do Brasil. Para aumentar o investimento, afirma ser necessário aumentar a poupança doméstica, e consciente dos limites da poupança externa. Ressalta que agora os gastos do governo adquirem um caráter diferente do "anticíclico" que deu para ser feito em 2009, quando o setor público estava mais enxuto.
*Zero Hora