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O Palácio do Planalto divulgou nota na noite desta terça-feira (8) negando que a Presidência da República pretenda encaminhar ao Congresso proposta de elevação do Imposto de Renda. Mais cedo, o presidente Michel Temer havia admitido a existência de "estudos" na equipe econômica sobre a proposta, mas, segundo o texto oficial, o peemedebista fez apenas uma "menção genérica" a análises que são feitas "permanentemente".
"Esclarecemos que hoje esses estudos estão focados prioritariamente em reduzir despesas e cortar gastos, na tentativa obstinada de evitar o aumento da carga tributária brasileira. E com esse foco o governo federal continuará trabalhando", diz a nota oficial da Presidência.
A hipótese de uma nova alíquota para o Imposto de Renda ganhou força na noite de segunda-feira (7), após o jornal O Estado de S.Paulo apurar que o governo estudava uma tributação de 30% ou 35% para pessoas com rendimento acima de R$ 20 mil mensais, mexer na tributação da distribuição de lucros e dividendos e acabar com a isenção de algumas aplicações do mercado financeiro. Só na mudança no IRPF, o governo poderia garantir até R$ 4 bilhões a mais na arrecadação, segundo o jornal.
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Na tarde desta terça, ao participar de evento da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em São Paulo, Temer foi questionado sobre o tema, e admitiu que o assunto era discutido pelo governo.
– São estudos que se fazem rotineiramente. A todo momento, o Planejamento e a Fazenda fazem estudos e esse é um dos estudos que está sendo feito. Não há nada decidido – afirmou na ocasião.
A proposta em análise, no entanto, não foi bem recebida por aliados do Palácio do Planalto. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em entrevista que a medida não seria aprovada pela Casa.
– Se tiver que passar pela Câmara, não passa – alertou.
Presidente da comissão especial da reforma tributária e colega de partido de Temer, o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA) criticou a possibilidade de aumento de alíquota no Imposto de Renda. Para Rocha, a medida desaqueceria a economia brasileira.
– Precisa de uma compensação. Só aumentar a carga tributária não é bom. O aumento faz com que o mercado desaqueça, você torna o Brasil menos competitivo no mercado mundial. Ou seja, o Custo Brasil vai lá para cima. É exatamente o que não precisamos neste momento. Precisamos é tirar o Brasil da estagnação econômica – afirmou.
– Para isso é preciso uma mudança no sistema tributário. Somos contra a cumulatividade, que torna a produção industrial muito mais cara. Não adianta aumentar apenas alíquota de IR se você não diminuir o imposto sobre o consumo – complementou.
A notícia irritou também o relator da reforma tributária na Câmara, deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). A reportagem presenciou o momento em que o tucano assistia a um jornal vespertino anunciar a intenção do Palácio do Planalto.
– É brincadeira. Se a gente aprovar aumento de imposto, não volta mais nenhum deputado para cá – reagiu.
*Zero Hora, com Estadão Conteúdo