
O candidato do PMDB ao governo do Estado, José Ivo Sartori, fez um ataque ao governador Tarso Genro (PT) ao justificar por que não assumiu o compromisso de pagar o piso do magistério caso seja eleito.
- O pior é criar o piso e não cumprir - afirmou o peemedebista durante a gravação do Cena Eleitoral Especial, nesta terça-feira.
No Cena Eleitoral Especial, Sartori responde a dúvidas dos leitores. Assista na íntegra:
No vídeo, Sartori respondeu a perguntas de leitores de Zero Hora. Na entrevista conduzida pela colunista Rosane de Oliveira e pela repórter Juliana Bublitz, o peemedebista explicou o apoio da legenda gaúcha à candidata Marina Silva (1:05), detalhou o significado de seu slogan de campanha (2:21), comentou a respeito de seu jeito enérgico (3:55) e questionou o possível desconhecimento de seu perfil (4:27). Falou ainda sobre a arrecadação do Estado e o federalismo (7:02), o gerenciamento da gestão pública (9:58) e o número de secretarias e cargos em comissão (12:28). Também detalhou as ações a serem feitas para cumprir o piso do Magistério (16:49).
O Cena Eleitoral Especial entrevistará os quatro candidatos a governador mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto. A ordem das entrevistas foi definida a partir da disponibilidade da agenda dos candidatos. Os concorrentes têm até 20 minutos para responder, em vídeo, a dúvidas de leitores, enviadas via zerohora.com, Twitter e Facebook. O primeiro candidato a participar foi Vieira da Cunha.
Você ainda pode mandar sua sugestão de pergunta para Ana Amélia Lemos e Tarso Genro. Basta preencher os campos abaixo.
Confira a entrevista de Sartori feita por Juliana Bublitz e Rosane de Oliveira
Com tantas dificuldades estruturais e financeiras no Estado, o que motiva o senhor a concorrer a governador?
Existem circunstâncias e circunstâncias. Às vezes, você não é dono de si. O PMDB me deu 36 anos de vida pública. De uma forma ou de outra, quando precisaram de mim... demorei bastante, alguns dizem que demorei demais até (para assumir a candidatura), mas tem horas que você não pode faltar ao Rio Grande. Com todas as dificuldades existentes, alguém tem de assumir isso com coragem e determinação.
O senhor demorou a assumir a candidatura por que ficou assustado diante do quadro financeiro do Estado?
Não. Vim a conhecer o quadro posteriormente. Vou ser sincero. Não tenho nada a esconder. Conhecia as dificuldades, só não sabia que eram tão profundas assim. Mas acho que há espaço, sim, para fazer uma caminhada política diferente. Me anima a vontade de mudar, de transformar. E a gente sabe que não é fácil. Houve equívocos. Houve momentos na história do Rio Grande do Sul em que as pessoas tinham legitimidade... por exemplo: o atual governador ganhou no primeiro turno. Tinha legitimidade para provocar mudanças e transformações, mas infelizmente o conteúdo interno, político-partidário, não lhe permitiu.
Que mudanças não foram feitas por Tarso que o senhor considera necessárias?
Uma é não endividar o Estado ainda mais. Vamos chegar ao final deste ano com o maior endividamento da história do Rio Grande do Sul. É endividamento em cima de endividamento. Isso não resolve o problema estrutural. Tem de controlar o cofre, as despesas, equilibrar as finanças. E outra: um gestor público tem de sair a campo, lutar e não entrar pela porta dos fundos. Renegociação da dívida é uma parte, não é tudo.
De onde sairiam os recursos para os investimentos?
O que sei é que todos os dias vamos ter de controlar o caixa. Isso é um sinal de que tem de haver mudança.
O senhor não aceita endividamento nem para investimento?
Para fazer investimentos não tem outra saída que não seja partir para PPPs e concessões. Mas não do jeito que foram feitas até aqui. Penso que adotando consórcios regionais, uma coisa mais moderna e atualizada que ainda não se tem conhecimento de como deve funcionar, mas que temos de experimentar.
Para que áreas se aplicariam os consórcios regionais?
Se aplicariam para a infraestrutura rodoviária e também para a área dos presídios.
O senhor cita Caxias do Sul como modelo de gestão. Mas administrar Caxias é diferente de administrar um Estado quebrado. Por que o senhor conseguiria repetir o que fez lá?
O Estado é uma questão diferenciada. Nunca neguei isso. Caxias do Sul tem orçamento e capacidade de endividamento. O Rio Grande do Sul tem de gastar no que é necessário, continuar o que for positivo e mudar o que precisa. Tem de olhar para frente, e isso significa equilibrar as finanças. Agora, você não pode cortar da saúde, da educação, da segurança.
E onde é possível cortar?
Esse é o problema. A questão é não gastar inutilmente.
O que seria um gasto inútil?
Tem gente que pensa de uma maneira e gente que pensa de outra. Não é cortar gastos. É evitar gastar. Convivi com essa experiência. Tinha secretário que achava que tinha de gastar todo o orçamento do ano. Não é assim. Tem de sobrar dinheiro.
A proposta de orçamento para 2015 prevê crescimento de receita de 12,5%, só que a economia está em recessão técnica. Da folha e da previdência não dá para cortar. Onde cortar?
Você só recupera as finanças se tiver um bom crescimento econômico. A dívida, tecnicamente, é impagável. Mesmo que você renegocie, vira um financiamento do BNH, daqueles que quanto mais você paga, mais fica devendo. Mas também não dá para escamotear a realidade. Se não tivesse sido renegociada lá atrás, hoje seria o dobro.
O senhor estava no governo. A negociação foi boa ou má?
Foi aquilo que a época permitiu fazer. Salvou o Banrisul. Lembro que cheguei ao líder do PT, que era contra o projeto, e disse: vão votar, porque é bom para o banco. Tanto é verdade que o banco está aí até hoje.
O senhor vai usar os depósitos judiciais para pagar folha?
Não saberia dizer agora, mas, se chegar o momento e houver dificuldades para honrar compromissos e manter a folha em dia, você tem de encontrar maneiras para que isso aconteça. A questão é que o governo tem de funcionar. Tem de ter formas de oferecer o melhor serviço para a sociedade dentro das dificuldades que tem.
Foi no governo do PMDB, na gestão de Antônio Britto, que o modelo de pedágios privados foi instituído no Estado. O senhor vai retomá-lo?
Quando falei em concessões, se coloca também isso. Só que acho que não se pode fazer algo atendendo interesses momentâneos e ocasionais. Não vou descuidar do que aconteceu. O modelo de concessões federais, feito mais recentemente, é um belo modelo.
O modelo de polos, adotado no governo Britto, foi um erro?
Não vou dizer que foi um erro. Pelo menos abriu a porteira e criou as condições de fazer, até porque votei (no projeto). Não vou negar isso. Seria uma besteira da minha parte.
O senhor fecharia a EGR?
Estamos avaliando. Sou muito cauteloso em relação a isso. Acredito que a EGR foi feita muito rapidamente, porque os contratos tinham terminado. A criação da empresa sem fazer a manutenção das rodovias foi contraditória, mas a empresa pode existir. Foi-se a época de discutir Estado mínimo ou máximo. Não é preciso ter preconceito com nada. Tem de ter é controle público.
Por que o senhor não quis assinar a carta-compromisso do Cpers sobre o piso?
Não é que não quis. Em toda a minha vida pública nunca tive medo de perder voto, mas tenho certeza de que não menti para os professores. Não vou prometer uma coisa que não sei se é fácil de realizar. Quem não deseja pagar melhor os professores? Fui professor por mais de 20 anos. Conheço a realidade. O que não é bom para o Estado é o conflito. É preciso abertura ao diálogo para construir a saída.
Qual é a sua ideia para melhorar o atendimento de saúde da população na ponta? O problema é a falta de dinheiro ou a forma como é utilizado?
Hoje você tem poucos municípios com gestão plena da saúde, e acredito na descentralização cada vez maior, na regionalização. Também acredito que é preciso avançar na forma de administrar a área. A outra coisa importante é cuidar muito da atenção básica. Se você tem condições de fazer boas práticas, não empurra a pessoa para o hospital. Ela vai antes no posto de saúde.
Em 2012, o senhor inaugurou o Sistema Marrecas, em Caxias, na presença da presidente Dilma Rousseff, mas a obra só entrou em funcionamento no último sábado. O que aconteceu?
Foi inaugurada a barragem, não o sistema. Toda a barragem estava pronta e toda a canalização também.
A sensação é de que se inaugurou uma obra incompleta.
Não, já tinha pronta toda a canalização, toda a estação de tratamento de água. Faltava a parte elétrica, que deu alguns problemas.
Mas começou a funcionar no sábado com apenas 22% de capacidade.
Bom, mas já é o suficiente. E veja que a obra foi feita em quatro anos. Todas as outras levaram mais de 12 anos. Algumas até 15 anos. A discussão é outra. O que importa é que, na área do meio ambiente, tivemos uma relação muito positiva com o Estado. Os técnicos da prefeitura de Caxias e do Estado fizeram uma composição. Tivemos a anuência do Ibama, e uma ONG entrou na Justiça contra o Ibama. Isso paralisou a obra no mínimo durante seis ou oito meses. Tivemos de vencer na Justiça, trabalhar com eles e criar condições. Mas foi ágil.
Foram necessários dois anos para entrar em funcionamento. Isso é agilidade?
O dia em que você administrar uma obra pública, vai me dizer o quanto é bom o santo e o salgado. A barragem foi inaugurada normalmente, com muita serenidade. A presidente Dilma esteve lá. Ajudou. Fui lá com os projetos, pegamos os recursos. Significa que não precisa ser amigo do rei para obter recursos e financiamentos. O que me preocupa é que o Estado tenha agilidade para não comprometer o desenvolvimento, mantendo a sustentabilidade.
No seu plano de governo, o senhor promete zerar o déficit prisional, criando 8 mil vagas em presídios. Uma cadeia tem em média 500 vagas. O senhor teria de construir 16 cadeias. Como faria? Por meio de PPPs?
Também. Não há outra maneira.
É possível fazer tudo isso?
O problema é que o plano de governo foi colocado para satisfazer uma questão de Justiça eleitoral.
Mas está no site do TSE.
(A assessora interfere e diz que o a intenção é "reduzir, não zerar" e que a informação foi corrigida.)
Também li e me passei. Não tenho vergonha de dizer. Mas ter metas é importante. E não tem outra saída: ou é concessão ou é PPP. Além disso, tem de mudar a política penitenciária nacional. O Ministério da Justiça tem de investir mais.
O que o senhor fará com o Presídio Central?
O projeto do atual governo é fazer a desativação.
E qual é o seu projeto?
De uma forma ou outra, vai ter de ter uma atitude. Prefiro deixar o atual governo à vontade para que faça a caminhada. Depois, vamos fazer o que nos couber.
Como fica a cabeça do eleitor quando vê as contradições do PMDB, que apoia Dilma em nível nacional e, aqui, está com Marina Silva, do PSB?
Vamos deixar bem claro: a lei eleitoral permite que os Estados tenham composições diferentes do partido em nível nacional.
Quando Eduardo Campos era o candidato, havia resistências ao nome de Marina no PMDB gaúcho. O que mudou?
Eu não tinha resistência a ela. Marina é a melhor expressão de uma possível mudança na vida do país. Ela simboliza uma política diferente, nova. É uma mulher preparada e respeitada internacionalmente. Tem conteúdo. A dificuldade que ela tinha no Rio Grande do Sul, em parte do PMDB e no agronegócio, é que todo mundo falava o que os outros falavam. E não o que ela dizia.