Especialistas em direito consultados por Zero Hora comentam o envolvimento dos três indiciados pela morte de Bernardo Uglione Boldrini. Na manhã de terça-feira, foi entregue no Foro de Três Passos o inquérito policial que apontou o pai do menino (Leandro Boldrini) como mentor do assassinato junto com a madrasta (Graciele Ugulini). Conforme a Polícia Civil, eles queriam matar o garoto há algum tempo e contaram com a ajuda de uma amiga (Edelvânia Wirganovicz).
Leia mais:
Polícia indicia pai de Bernardo como um dos mentores do crime
Justiça decreta prisão preventiva de suspeitos no caso Bernardo
MP dá parecer favorável à prisão preventiva de indiciados
Foto: Arquivo Pessoal

Edelvânia Wirganovicz
Assistente social e amiga de Graciele Ugulini, 40 anos
Situação: presa desde 14 de abril
Indiciamento: homicídio qualificado mediante paga ou promessa de recompensa, motivo fútil, meio insidioso, dissimulação e recurso que impossibilitou a defesa da vítima, e ocultação de cadáver.
Penas: de 12 a 30 anos de reclusão por homicídio qualificado (com acréscimo a ser estabelecido por conta das agravantes) e de um a três anos por ocultação de cadáver.
Advogado criminalista e professor de Direito Penal na PUCRS, Andrei Schmidt afirma que a situação de Edelvânia na Justiça vai depender da verificação do seu papel no crime. Se a colaboração limitou-se à ocultação do cadáver, o homicídio não poderá ser atribuído a ela. Mas se Edelvânia colaborou diretamente para a morte (por exemplo, providenciando a substância que matou Bernardo ou imobilizando o menino), o quadro muda e a acusação de homicídio ganha força. Schmidt alerta que a confissão, por si só, não é uma prova, mas o depoimento e a colaboração decisiva para a investigação podem reduzir a pena dela. Apesar de ser contestada pela defesa, a veracidade do depoimento de Edelvânia pode ser atestada pelo fato de que o corpo de Bernardo ter sido encontrado no local indicado por ela.
Foto: Arquivo Pessoal

Graciele Ugulini
Enfermeira e madrasta de Bernardo, 36 anos
Situação: presa desde 14 de abril
Indiciamento: homicídio qualificado mediante paga ou promessa de recompensa, motivo fútil, meio insidioso, dissimulação e recurso que impossibilitou a defesa da vítima, e ocultação de cadáver.
Penas: de 12 a 30 anos de reclusão por homicídio qualificado (com acréscimo a ser estabelecido por conta das agravantes) e de um a três anos por ocultação de cadáver.
Especialistas apontam que a participação da madrasta e de Edelvânia estão bem claras no indiciamento da Polícia Civil. Graciele é considerada a suspeita em que o envolvimento na morte de Bernardo aparece de forma mais explícita. O relato dela à polícia, alegando uma morte acidental, foi reforçado pelas provas colhidas durante a investigação, como imagens de câmeras de vigilância. O advogado criminalista Nereu Lima afirma que, se Graciele for considerada mera executora de um crime planejado pelo marido, sua pena poderá ser inferior a dele. Para a polícia, Boldrini foi o mentor do crime, ainda que o planejamento tenha sido feito pelo casal. Nessa hipótese, a madrasta passa a ser considerada coautora, e a pena de ambos pode ser igual.
Foto: Arquivo Pessoal

Leandro Boldrini
Médico e pai de Bernardo, 38 anos
Situação: preso desde 14 de abril
Indiciamento: homicídio qualificado mediante paga ou promessa de recompensa, motivo fútil, meio insidioso, dissimulação e recurso que impossibilitou a defesa da vítima, e ocultação de cadáver.
Penas: de 12 a 30 anos de reclusão por homicídio qualificado (com acréscimo a ser estabelecido por conta das agravantes) e de um a três anos por ocultação de cadáver.
Professor de Processo Penal da PUCRS, José Antonio Paganella Boschi considera que o conjunto de provas da polícia é forte. Mesmo que Boldrini tivesse confessado o crime, seriam necessários indícios para condená-lo. A partir das evidências apresentadas ontem, Boschi avalia que os elementos coletados até agora são suficientes para sustentar a argumentação policial. As peças se ligam como um quebra-cabeças. Para o especialista, o depoimento da testemunha que relatou uma conversa com Graciele, na qual a madrasta teria falado sobre a intenção do casal de matar Bernardo, é consistente. Boschi igualmente ressalta contradições nas declarações de Boldrini. Mesmo que o pai não tenha participado da ocultação do corpo de Bernardo, Boschi indica que o médico pode responder pelo crime por não ter interrompido a ação a qual teria conhecimento. Por outro lado, há criminalistas que ainda acham frágeis os indícios de participação do pai no crime.
AS DÚVIDAS
Pontos que ainda dependem de investigações ou perícias
- Qual foi a participação de Evandro Wirganovicz, preso no último sábado, suspeito de ter aberto a cova em que seria enterrado Bernardo.
- Perícia na receita de midazolam supostamente assinada por Leandro Boldrini e em nome de Edelvânia. Ela usou a prescrição para comprar o comprimido em Frederico Westphalen.
- Resultado da perícia sobre a substância que teria sido injetada no braço do menino e causado sua morte. Já foi apontado pela perícia que havia midazolam no corpo de Bernardo.
- Perícia em roupas e calçados das mulheres suspeitas para verificar eventual presença de resíduos de soda cáustica.
- Análise das informações resultantes de quebra do sigilo financeiro dos suspeitos.
O crime
Veja como teria ocorrido o crime