
Preso desde 14 de abril por suspeita de participar da morte do filho Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, o médico Leandro Boldrini, 38 anos, deve ser incriminado com base em pelo menos quatro contradições levantadas pela Polícia Civil após uma série de depoimentos e recolhimento de provas materiais.
Leia mais:
Perícia encontra Midazolam no corpo de Bernardo
Madrasta de Bernardo isenta pai do menino
Leandro Boldrini pedirá separação de Graciele
Ao todo, foram ouvidas mais de cem pessoas e há perícias técnicas prontas. Zero Hora teve acesso ao inquérito, que tem previsão de ser finalizado e enviado ao Ministério Público em uma semana, e mostra com o que os policiais trabalham para incriminar o médico, recolhido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), na Região Metropolitana.
Na terça-feira, o Tribunal de Justiça negou o pedido de habeas corpus impetrado em favor de Leandro. No entendimento do desembargador Nereu José Giacomolli, da 3ª Câmara Criminal, não há como serem afastadas as razões de autoria ou participação do médico no crime. A defesa do suspeito sustentou que as outras investigadas no caso - Graciele Ugulini e Edelvânia Wirganovicz - o inocentaram. Alegou, ainda, que não há elementos necessários para que seja mantida a prisão temporária.
Madrasta queria "dar um fim na situação"
Além das supostas contradições de Leandro, dois elementos do inquérito chamam a atenção. Um deles é o depoimento do médico de Três Passos José Roberto Sartor, amigo de Leandro, que disse que "na manhã de segunda-feira, 7 de abril, Leandro esteve no Hospital de Caridade e teria entrado 'cantando' no bloco cirúrgico, aparentando estar feliz". Neste mesmo dia, Boldrini procurou a polícia para comunicar o sumiço de Bernardo.
O outro é que, de acordo com a Polícia Civil, "Keli disse que ia dar um fim naquela situação, se referindo à situação familiar em relação a Bernardo, dizendo que gente para fazer isso é o que mais tinha".
Zero Hora entrou em contato com a delegada de Três Passos, Caroline Bamberg, que preferiu não se manifestar. Ela não definiu que dia o inquérito estará concluído.
Relembre o caso
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugulini, 36 anos, para comprar uma TV.
De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.
Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini - que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município -, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvânia Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo.