
Indefinição e angústia. Assim pode ser descrito o clima entre indígenas e colonos que disputam a posse de 5,9 mil hectares de terra na véspera de completar 30 dias da morte a tiros e pauladas dos irmãos e agricultores Alcemar de Souza, 41 anos, e Anderson, 26 anos, em Faxinalzinho, cidade agrícola no norte gaúcho.
A Polícia Federal (PF) identificou oito indígenas suspeitos das mortes - o cacique Deoclides de Paula e mais quatro índios estão presos provisoriamente. Os outros três são foragidos.
- Às 17h de quarta-feira, hora em que os irmãos foram mortos pelos índios, os sinos de várias igrejas das cidades vizinhas deverão tocar para lembrar o absurdo que aconteceu - explica Ido Antonio Marcon, presidente da Associação dos Moradores de Faxinalzinho.
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Além do toque dos sinos, não havia nenhuma outra manifestação programada na manhã de terça-feira, comenta Selson Pelin, prefeito de Faxinalzinho. Segundo ele, o que interessa a todos, inclusive aos índios, é a solução do litígio agrário - há 12 anos, os caingangues reivindicam uma ampliação de 5,9 mil hectares na reserva indígena de Votouro, que tem 3,3 mil hectares nas cidades de Faxinalzinho e Benjamin Constant do Sul. Esse eventual aumento na área tiraria a terra de pelo menos 200 pequenos produtores rurais.
- Nas conversas que tivemos entre os caciques, depois do que aconteceu, nós chegamos à conclusão de que as mortes foram uma fatalidade e que os mortos poderiam ter sido tanto os índios quanto os colonos. Avisamos as autoridades que, se litígio não for resolvido, outras mortes podem acontecer - comenta o cacique Roberto Carlos dos Santos, do acampamento dos caingangues do Rio dos Índios, uma área de 600 hectares que é disputada com os agricultores em Vicente Dutra, cidade agrícola na barranca do Rio Uruguai.
Roberto Carlos faz parte de um grupo de 30 caciques de acampamentos de índios que disputam terras com os brancos. O grupo era liderado pelo cacique Deoclides, que está preso.
A próxima semana
Por conta das dificuldades de concluir as investigações, na manhã de terça-feira era grande a possibilidade de ser pedida prorrogação da prisão temporária (que termina no dia 9) dos cincos índios.
- As dificuldades que estamos enfrentando para fechar o inquérito são enormes devido à hostilização que os policiais enfrentam na área. Se persistir esse quadro, nós precisaremos de mais prazo para concluir o trabalho - relata o delegado Mauro Vinicius Soares de Moraes, da PF de Passo Fundo.
As informações que os agentes federais estão coletando são para esclarecer qual é a participação de cada um dos oito indígenas na morte dos irmãos. A se confirmar a principal linha de investigação da PF, os caingangues devem ser indiciados por homicídio.
*Zero Hora