Por ser uma propriedade particular, é de Heck a responsabilidade de fazer a manutenção dos postes. Ele vai esperar o nível do rio baixar para remover o boi.
- Para chegar lá agora, só de barco. O poste tem 11 metros, precisaremos de um guindaste. O meu prejuízo mesmo foi com o trigo. Perdi uns 100 hectares.

O agricultor Aldo Marino Heck, 55 anos, está acostumado a enfrentar alagamentos como o do final de junho deste ano, que atingiu a Fronteira Oeste. Plantador de arroz, trigo, soja e milho há 23 anos, ele contabilizava os prejuízos de mais uma enchente em seus 120 hectares da Granja Mercedes, interior de São Borja, quando se deparou com uma cena que nunca tinha visto. Em cima de um poste, a 11 metros de altura, jazia uma vaca - estufada, já em estado de putrefação. Espantado, chamou um funcionário, que fotografou o animal para comprovar que eles não mentiam.
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Conforme Aldo Heck, a granja está localizada a cerca de 500 metros do Rio Uruguai, que alagou por causa da chuvarada dos últimos dias. Pouco tempo depois de o assunto se espalhar pela cidade, diversos moradores da região e amigos foram até a propriedade de Heck para ver de perto a cena surreal. O privilégio, porém, foi para poucos: para chegar até lá, é necessária a autorização do dono, pois é preciso passar pela sede da granja. Depois, só indo de barco até o ponto onde a vaca foi avistada, já que o local segue alagado.
O agricultor fala que a imagem do bovino em cima do poste virou motivo de piada na cidade dos ex-presidentes da República Getúlio Vargas e João Goulart, e se espalhou nas redes sociais e no WhatsApp. Como não cria animais, acredita que o boi deva ser de algum vizinho, que ainda não o procurou.
- O pessoal está dizendo que vaca agora voa. Mas, falando sério, não sei como isso aconteceu, só vimos o bicho pendurado lá. Não sei se chegou vivo ou morto. Acho que deve ter nadado para fugir da enchente e ficou trancado no poste.
Foto: Pablo Moreira Gonçalves/SÃO BORJA

Bovinos costumam nadar bem
O fiscal agropecuário da Secretaria de Agricultura de São Borja, Alcides Koslovski, explica que é comum a morte de animais em enchentes. Em novembro, época de vacinação, os agricultores devem relatar ao município as perdas. Ele foi informado, por exemplo, de que um fazendeiro perdeu dez bovinos com a enxurrada. Koslovski ressalta que os bois e as vacas são bons nadadores e costumam resistir à chuvarada:
- Nadam muito bem mesmo. Só morrem se for uma chuva forte, com água corredeira. Já a ovelha, por exemplo, tem medo de água. Quando ela sente que o rio mexe, já tenta fugir. Essa história de um boi em cima dum poste eu nunca tinha visto, é o acaso.
Na manhã desta quarta-feira, funcionários da AES-Sul foram até a Granja Mercedes e confirmaram que a manutenção do poste deve ser feita por Aldo Heck.