Humberto Trezzi / Brasília
Quem recebe os ganeses que chegam ao sul do Brasil? Quem providencia hospedagem e ensina a eles o passo a passo da burocracia para ficarem? Outros ganeses, que inclusive os esperam nas estações rodoviárias. Mas o que a Polícia Federal (PF) investiga é se existe um esquema criminoso por trás dessa migração.
Os policiais temem que os migrantes de Gana apelem, por exemplo, para casamento com brasileiras, mesmo tendo outra esposa na África - no mundo muçulmano, é permitido ter quantas mulheres possa sustentar. Seria garantia de permanência no Brasil e até de cidadania. Há precedentes desse estratagema entre outros grupos de africanos que migraram para o sul do Brasil.
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A Secretaria de Defesa Social de Criciúma (SC), mediante entrevistas com os ganeses, identificou alguns dos intermediários que recebem os compatriotas africanos e os hospedam no Brasil, mediante alguma remuneração. O material foi repassado à PF, que investiga se isso configura tráfico humano (artigo 206 do Código Penal). Para caracterizar essa situação teria de ocorrer trabalho escravo (até agora isso não foi constatado), falsidade ideológica (no uso de documentos ou na própria declaração de refugiado, que será investigada) ou até estelionato (se o intermediário garante algo que não possa cumprir, como emprego). O delegado que cuida da questão dos migrantes em Criciúma, Nelson Napp, prefere não comentar as investigações.