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O ataque de um tigre a uma criança de 11 anos na tarde desta quarta-feira no zoológico de Cascavel, no interior do Paraná, levantou a discussão sobre a segurança dos animais e dos visitantes nestes locais.
Sob os olhos do pai, o menino desrespeitou a barreira de segurança do zoo. Ele teria pulado a cerca de proteção - uma barra de ferro ligada ao solo por uma tela de arame, que fica a dois metros da jaula - e passou a brincar com o felino selvagem (assista ao vídeo abaixo). A criança estava com o braço dentro do espaço reservado ao animal quando o tigre avançou. Ela passou por cirurgia e teve o braço amputado na altura do ombro.
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Veja abaixo o que diz a normativa que regulamenta a segurança na interação do público com felinos selvagens em um zoológico.
O que é um zoológico seguro de acordo com a legislação?
O uso e o manejo da fauna silvestre que vive em cativeiro no território brasileiro devem estar de acordo com a Normativa do Ibama 169, publicada em 2008. Quando se trata de animais que habitam zoológicos, as instruções do documento levam em conta as variadas espécies e suas necessidades particulares em relação ao espaço, distanciamento do público e tratamento por parte de alimentadores, veterinários e técnicos.
No grupo dos mamíferos, a família dos felinos selvagens recebe um tratamento diferenciado - em grande parte justificado pelo fator segurança. Para que equipes do próprio zoológico entrem nas jaulas, por exemplo, é preciso que prendam o animal com trava e cadeado no chamado cambiamento, uma área de confinamento. Além disso, o local deve ter um corredor para o manejo ou câmeras de segurança.
Conforme a normativa, a recomendação é que tigres, leões, onças, pumas e leopardos vivam em jaulas de 70 m², com capacidade para dois animais. No recinto, deve haver um tanque de 10 m², com um metro de profundidade. Se fechado, o recinto deve ter altura mínima de 3 metros, piso com grama ou outra vegetaçao rasteira, disposição de troncos e tocas e árvores de médios porte.
Esses são os requisitos para certificar o bem-estar físico e psicológico do animal. No que diz respeito à segurança dos visitantes, a normativa prevê um afastamento mínimo de 1,5 m entre a jaula e o público - exceto quando existe uma barreira física que impossibilite totalmente o contato direto das pessoas com os animais, como vidros.
Não há entre as regras, no entanto, especificações de como esse distanciamento deve ser preservado. Segundo a normativa, "as barreiras deverão ser definidas pelos técnicos responsáveis pelo jardim zoológico, considerando a segurança do animal, do público visitante, dos técnicos e dos tratadores".
"O que falta é educação por parte do visitante"
Especialistas em manejo com felinos selvagens ouvidos por Zero Hora assumem que as normas poderiam ser melhores, mas garantem que um espaçamento entre a jaula e a barreira de proteção já seria suficiente caso respeitado.
- Em qualquer situação de descuido, você pode ter um acidente. A comparação nesse caso é com um acidente de trânsito. Quem causa o atropelamento não é o carro, mas quem conduz. Seguindo essa lógica, você pode colocar um muro como barreira e sei lá o que entre o muro e o recinto, mas se não houver responsabilidade de quem está visitando, não há o que possa ser feito - afirma o biólogo Fernando Magnani, diretor do Zoológico de São Carlos e ex-presidente da Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil (SZB).
Gleide Marsicano, veterinária e ex-diretora executiva do Zoológico de Sapucaia do Sul, compartilha da opinião de Magnani. Segundo ela, sendo as normas técnicas do Ibama obedecidas, a segurança em um zoológico depende fundamentalmente do comportamento de seu público.
A veterinária dá exemplos de desrespeito e de ações em que as pessoas provocam os bichos, podendo levá-los à morte ou a comportamentos agressivos. Atitudes como essas, implicam em perda de segurança para os dois lados.
- Quando se fala em segurança em um zoológico, deve-se pensar também na segurança do animal. Muitos visitantes jogam coisas para dentro dos recintos. Os animais ingerem e pode ir até a óbito. É salto de sapato, bolinha de gude, pedra. As pessoas nem sempre se dão conta. Elas querem, por exemplo, ver um jacaré se mexer, mas não é do comportamento do jacaré ficar se mexendo - explica Gleide.
Entre as possibilidades de se aumentar a segurança estão as barreiras de vidro - já utilizadas em alguns zoológicos no país - e o monitoramento intensivo de equipes de segurança.
- Estamos em um caminhar bastante positivo, que sempre busca mais conforto e visibilidade para ambas as partes. As divisórias de vidro, por exemplo, são fantásticas para a aproximação - acredita Magnani.
- Mas essa é uma proteção que os zoológicos podem colocar além da norma. Na regra, não existe essa necessidade. Se uma criança conseguiu chegar até lá, houve uma falha no manejo. Não havia monitores próximos para impedir esse risco - afirma Paulo Wagner, veterinário responsável pelo centro de triagem de animais silvestres e pelo núcleo de fauna do Ibama-RS.