
Em audiências individuais no Ministério Público nesta sexta-feira, as Cooperativa Agropecuária Petrópolis (Piá), de Nova Petrópolis, e a Santa Clara, de Carlos Barbosa, garantiram que não há álcool no leite in natura ou no produto final das empresas, vendido aos consumidores e apresentaram documentos com testes que comprovariam a qualidade.
Mas, ao final das reuniões, o promotor de Defesa do Consumidor, Alcindo Bastos, que coordena as investigações, defendeu que há fraude, numa variação daquelas que a Operação Leite Compen$ado apurou, com o mesmo objetivo: aumentar o lucro. Mais do que isso, Bastos deu indícios de onde estariam sendo feitas as adulterações:
- Se houve falha, foi no caminho entre o produtor e o transportador. Acredito que as empresas, se erraram, pois ambas são idôneas, foi no controle de qualidade - afirmou o promotor.
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Ainda segundo ele, os transportadores da Piá são pagos de acordo com o volume transportando, enquanto na Santa Clara eles são funcionários e recebem valor único. Por isso, a determinação de onde e quem seriam os fraudadores ainda depende de mais investigação.
Assim como o Ministério da Agricultura e do Abastecimento (Mapa) já havia dito, o promotor reiterou que o álcool só pode ser encontrado no leite se for colocado de forma intencional e que, historicamente, ele é usado para mascarar a adição de água.
Mesmo diante do questionamento das cooperativas sobre o teste feito pelo Mapa, que detectou o álcool etílico, Bastos disse que confia plenamente nos testes e que eles estão corretos. Para ele, os exames feitos pelas empresas é que podem ter falhado.
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- O que ainda não sabemos é que tipo de álcool foi usado. Se eu fosse um fraudador, eu usaria álcool de posto (de gasolina), que é mais barato e vem em grandes quantidades. E aí teríamos mais um ponto negativo, pois o álcool de posto tem 3% de gasolina - supôs Bastos.
O promotor pediu às duas empresas mais documentos, como detalhamento de rotas e funções e planilhas antigas de lotes de leite rejeitados devido à presença de álcool. Essas informações devem ser entregues, por escrito, em até 20 dias. Logo após, novas audiências devem ser feitas.
A intenção inicial da promotoria é que os casos não sejam encaminhados para a esfera criminal, mas que, após o esclarecimento, sejam assinados termos de ajustamento de conduta (TACs) para aprimorar o controle de qualidade do leite.
A versão das cooperativas
Primeira cooperativa a se reunir com o promotor, a Piá foi ouvida por quase duas horas pelo promotor. Um agravante específico da empresa é que ela já havia assinado um TAC, em fevereiro deste ano, em que se comprometia com uma série de melhorias em qualidade e segurança dos produtos.
Após a reunião, o presidente da cooperativa, Gilberto Kny se manifestou. Como novidade, apresentou dois laudos, de laboratórios distintos, que atestam que o produto final - leite UHT e requeijão - que teve que ser retirados dos supermercados, não tinha presenã de álcool.
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- Queremos tranquilizar os nossos consumidores que eles não ingeriram produto adulterado e que podem continuar comprando a marca Piá - afirmou.
Ele também destacou que a empresa faz mais de 100 mil exames mensais em todas as etapas do leite e que os lotes em que o Mapa detectou álcool haviam sido submetidos a testes que deram negativo para a presença da substância.
- Confiamos 100% que não houve presença de álcool - acrescentou.
Logo depois da Piá, a cooperativa Santa Clara se reuniu na promotoria de Defesa do Consumidor. Após uma hora de audiência, os representantes informaram que questionaram oficialmente o Ministério da Agricultura sobre como os testes que teriam detectado álcool etílico foram feitos.
No caso da Santa Clara, a substância teria sido encontrada em leite pausteurizado, ou seja, com poucos dias de validade e, por isso, quando o Mapa divulgou a adulteração o produto já havia sido consumido.
Alexandre Guerra, diretor administrativo da empresa, explicou que mais de 6 mil exames são feitos por dia na empresa e que cada lote de leite passa por três análises antes de chegar na indústria, por isso.
- Nos surpreendeu muito esta divulgação do Ministério, porque temos laboratórios bem equipados e sofisticados que não detectaram álcool e confiamos que o nosso produto não teve irregularidades - afirmou Guerra.