
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola, que deixou mais de 700 mortos. O anúncio foi feito na sexta-feira durante uma reunião de emergência em Conacri, capital da Guiné, para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e severos prejuízos econômicos, se continuar a se espalhar.
- Essas áreas serão isoladas pela polícia e pelo exército. As pessoas nestas áreas sob quarentena receberão ajuda material - destacou Hadja Saran Darab, secretária-geral do bloco União do Rio Mano, que reúne os países da África Ocidental afetados pelo surto.
Os líderes de Serra Leoa, Libéria e Guiné usaram a cúpula, da qual também participaram representantes da Costa do Marfim e da OMS, para anunciar um plano de resposta de US$ 100 milhões à crise sanitária.
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Centenas de especialistas e funcionários sanitários serão mobilizados para combater a epidemia.
Os três países também incentivarão os esforços para evitar e detectar casos suspeitos, instar uma melhor vigilância fronteiriça e reforçar o centro de coordenação sub-regional da OMS para combater a epidemia, na Guiné.
Darab não revelou a área exata que fará parte da zona de isolamento, mas o epicentro da doença tem um diâmetro de quase 300 quilômetros, espalhando-se de Kenema, no leste de Serra Leoa, a Macenta, no sul da Guiné, e abrange a maior parte das florestas no extremo norte da Libéria.
Até agora, a resposta à epidemia foi "inadequada" e, em consequência, o vírus "está se movendo mais rápido do que os nossos esforços para controlá-lo", lamentou a diretora da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Chan, que pede uma maior mobilização internacional contra a epidemia.
Virologistas americanos anunciaram que testarão uma vacina experimental. Os Estados Unidos já anunciaram a retirada de dois cidadãos americanos, contaminados pelo vírus na região.
- Se a situação continuar se deteriorando, as consequências podem ser catastróficas em termos de perdas de vidas humanas, mas também severas em termos socioeconômicos e do alto risco de contágio para outros países - disse Chan.
A propagação "está acontecendo em áreas rurais de difícil acesso, mas também em cidades densamente povoadas", descreveu Chan.
A reunião aconteceu depois que começaram a chegar os primeiros anúncios de suspensão de voos, como o da companhia aérea Emirates de Dubai. Diante do agravamento da situação, o presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, e a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, negaram-se a participar de outra cúpula, prevista para acontecer em Washington, e que reunirá cerca de 50 chefes de Estado ou de governo africanos.
Os participantes da cúpula EUA-África, na semana que vem, em Washington, procedentes de países afetados pela epidemia de ebola, serão submetidos a exames médicos em sua chegada aos Estados Unidos.
Decreto de estado de emergência
Serra Leoa e Libéria tomaram medidas drásticas diante da epidemia de febre hemorrágica. Horas depois de a presidente liberiana Ellen Johnson Sirleaf ordenar na noite de quarta-feira o fechamento de "todas as escolas", seu colega serra-leonês, Ernest Bai Koroma, decretou nesta quinta-feira o estado de emergência.
Koroma também anunciou medidas como colocar em quarentena as áreas afetadas pelo ebola, mobilizar forças de segurança para proteger o pessoal médico e proibir as reuniões públicas, assim como organizar os locais onde se pensa haver doentes.
O médico belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola em 1976, no Zaire (hoje República Democrática do Congo, RDC), estimou que as dificuldades que Libéria e Serra Leoa têm para enfrentar a epidemia se devem a que "estes países saem de dezenas de anos de guerra civil".
Os temores de que o surto de ebola na África se propague a outros continentes aumentam. Europa e Ásia se mantinham em alerta, e a organização Médicos sem Fronteiras advertiu que a epidemia estava fora de controle e os corpos da paz dos Estados Unidos anunciaram que estão deixando a região.