
O que aconteceu? A pergunta que todos fazem em Santos e no Brasil angustia também os especialistas em aviação. Nem bem as chamas foram apagadas e as cinzas revolvidas e os investigadores começaram a trabalhar com hipóteses para esclarecer a tragédia que matou o presidenciável Eduardo Campos. Equipes do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes) da Aeronáutica entrevistam pessoas desde a manhã desta quarta-feira e recolhem os restos de metal retorcido do Cessna 560 XL usado pelo candidato atrás de respostas.
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A partir de depoimentos, três hipóteses já são consideradas, uma bem diferente da outra, conforme relataram dois especialistas consultados por Zero Hora:
1 - Fogo em turbina provocado por colisão com pássaro: algumas testemunhas viram fogo em um dos dois motores do jato. Isso é comum quando a aeronave colide com algum objeto. Como Santos é área litorânea, é possível que o avião tenha sugado uma gaivota ou albatroz, abundantes na região. Isso causaria um transtorno terrível para o piloto. Contra a hipótese pesa o fato de que são dois os motores e, em teoria, o Cessna consegue pousar com apenas um. A menos que o fogo tenha sido tão intenso que atingiu os comandos de leme da aeronave, fazendo com que ela embicasse para o chão (as turbinas ficam junto à cauda, que dá direção ao jato).
2 - Desorientação do piloto: chovia e a visibilidade estava baixa na região de Santos. O piloto pode ter confundido céu e terra. Como? Talvez por fadiga. Submetidos a muitas horas seguidas de voo, aviadores costumam vivenciar o que os norte-americanos chamam de CFIT (Controlled Flight Into Terrain ou Voo Controlado Direto para Terra). O piloto está no comando, mas perde orientação e bate direto em solo. Existe um dispositivo para tentar evitar isso, o EGPWS, que monitora a distância da aeronave em relação ao solo e emite sinais de alerta, em caso de perigo.
- Mas o piloto pode até desligar ou não prestar atenção no alarme, se estiver cansado ou sob estresse - adverte o piloto Georges Ferreira, que é professor de Ciências Aeronáuticas na Universidade Federal de Goiás e especialista em segurança de voo.
O mesmo diz Paulo Rogério Licati, especialista em fadiga de tripulações aérea e representante da Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil (Abrapac) no Cenipa.
3 - Colisão com outra aeronave: ocorreram boatos de que o avião teria batido num helicóptero, mas não foram confirmados.
Soma-se a essa a sempre possível probabilidade de um mal súbito no piloto.
A hipótese de falha mecânica é considerada improvável, por um motivo claro: o Cessna usado por Eduardo Campos passou pela Inspeção Anual de Manutenção em fevereiro e, depois disso, fez revisão de 100 horas de uso, obrigatória para esse tipo de aeronave. Isso consta no relatório do Registro Aeronáutico Brasileiro, disponibilizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), informa Georges Ferreira, que se desloca para Santos para também ajudar nas investigações. Ele considera a colisão com uma ave a hipótese mais plausível para o acidente. Licatti também se deslocou para lá.
Veja o infográfico:
O jato caiu no bairro Boqueirão, na região central de Santos: