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A solução para a crônica falta de energia elétrica na Ilha do Pavão não é fácil e nem imediata. Passa pela concordância de autoridades municipais, estaduais e federais em torno da legalização de uma comunidade carente que ocupa área irregular na região e de obras emergenciais. Essa é a análise de Marcelo Paludo, gerente da CEEE para a Região Metropolitana.
Premidos por uma falta de luz que durou três dias, moradores da Ilha do Pavão e também de outras ilhas de Porto Alegre - como a dos Marinheiros - interromperam no sábado o trânsito de veículos na BR-290, uma das principais vias de acesso a Porto Alegre, durante cinco horas. O protesto, feito com barricadas de entulhos, provocou 13 quilômetros de congestionamento, nos dois sentidos da via. A situação se manteve até a madrugada de domingo, quando, por volta das 2h15min, a luz foi restabelecida.
Residentes das ilhas relatam que as aulas nas escolas e creches da região foram suspensas, muita comida apodreceu e crianças e idosos que precisam de cuidados médicos mais complexos sofreram as consequências da falta de energia.
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Paludo, da CEEE, diz que o epicentro dos problemas é uma comunidade com cerca de 200 residências, na Ilha do Pavão. Ele afirma que ela foi construída de forma irregular, na faixa de domínio da BR-290, onde é proibido fixar moradia. O veto existe também para montar rede de energia elétrica, mas os moradores driblam a proibição, fazendo "gatos" (ligações clandestinas).
O problema foi agravado pelos temporais que se abatem sobre a Região Metropolitana desde quinta-feira.
- Como as ligações clandestinas são frágeis, muitas delas arrebentaram ou os transformadores da região não suportaram a carga demasiada. O resultado foi falta de luz e as agruras pelos quais passam os moradores.
A área da Ilha do Pavão onde fica a vila que sofreu corte de luz é administrada pela Concepa (concessionária privada que explora o pedágio na BR-290). Paludo diz que a CEEE já acertou com a Concepa para que os moradores daquela comunidade, mesmo clandestina, recebam ligação de energia por pelo menos um ano, dentro do programa Energia Legal. Isso passa também pela regularização fundiária de parte da vila - cerca de 60% das residências, informa o gerente da CEEE. Os demais moradores teriam de ser levados para outra área, a ser regularizada.
Paludo calcula em dois meses o prazo necessário para que os moradores da vila recebam fiação elétrica legalizada. Os postes já estão sendo colocados e falta providenciar ligação com cada residência. O executivo admite que, enquanto não acontecer a regularização, a possibilidade de que os moradores continuem usando "gatos" é grande.
- Solução definitiva, só via remoção dos moradores para uma área escolhida pela prefeitura ou sua regularização. Temos tentado sensibilizar a Concepa e a prefeitura para esse dilema social. Perto da BR-116 já foi conseguida uma saída desse tipo, com uma rede provisória para 300 casa da Vila Santo André - conclui Paludo.