
Resultados provisórios apontam que cerca de 80,7% das pessoas que foram às urnas, neste domingo, na Catalunha, apoiaram a independência da região da Espanha, divulgou o governo local após a apuração de 88,44% das seções eleitorais. Dos 2.043.226 votos contabilizados até aquele momento, 1.649.239 foram um duplo "sim" - para a transformação em Estado e pela independência -, 206.599 para o "sim-não" (10,11%) e 92.939, para o "não", informou a vice-presidente regional, Joana Ortega.
O presidente regional da Catalunha, o nacionalista Artur Mas, celebrou a simbólica votação deste domingo, considerando-a "um sucesso total", com "claramente mais de 2 milhões" de participantes, apesar do veto imposto por Madri.
- Que ninguém se esqueça, principalmente o governo espanhol: a Catalunha demonstrou, mais uma vez, que quer governar a si mesma - declarou Mas, em evento em Barcelona após o término da votação.
Para ele, foi "um passo gigante em nossa legítima aspiração de decidir pacífica e livremente nosso futuro".
- Lamento que as primeiras reações em Madri tenham sido, mais uma vez, reações de muita miopia política e muita indiferença, quando não de intolerância. Hoje tinham uma oportunidade de ouro para entender a mensagem da vontade catalã - rebateu o presidente regional, referindo-se às declarações do ministro da Justiça, Rafael Catalá, em nome do governo espanhol.
O presidente regional citou os exemplos da Escócia, em setembro passado, e de Québec, em 1995, que conseguiram realizar referendos sobre sua independência de mútuo acordo com Reino Unido e Canadá, respectivamente.
- Todas as nações têm direito de decidir seu futuro, e a lição de democracia e de participação que a Catalunha deu reforça esse direito natural que todas as nações têm e que os Estados democráticos maduros respeitam e tornam possível exercer - comentou.
Mas foi reeleito presidente em 2012, após prometer realizar um referendo na região. Impedido por Madrid, ele promoveu essa votação simbólica, sem qualquer efeito jurídico. Organizada por voluntários, a consulta aconteceu apesar da suspensão do Tribunal Constitucional.
Governo da Espanha critica a votação catalã
O ministro espanhol da Justiça, Rafael Catalá, classificou a votação de "ato de propaganda, estéril e inútil", em declarações por volta das 21h deste domingo (18h, no horário de Brasília). Primeiro membro do governo Mariano Rajoy a comentar a consulta após o dia de votação, o ministro defendeu que se trata de uma "propaganda política" a serviço do presidente regional Artur Mas, "sem validade democrática".
- A Espanha é um regime democrático que desfruta da liberdade de expressão e de manifestação, no qual as consultas populares são regidas por normas rígidas, garantindo a imparcialidade e a neutralidade. Nenhuma dessas exigências foi respeitada. É um ato de propaganda sem consequências jurídicas, que serviu apenas para exacerbar a divisão entre catalães - criticou Catalá, anunciando que o Ministério Público decidirá "nos próximos dias" se adotará "ações legais".
*AFP