
Com formato de X e o zum-zum de um besouro gigante, um equipamento voador pouco maior que uma caixa de sapatos pode mudar a forma e a trilha sonora das investigações criminais no Estado em breve.
De olho na tecnologia utilizada em países como Argentina, Inglaterra e Alemanha, peritos gaúchos realizam estudos para viabilizar o uso de aviões não tripulados, ou drones (do inglês, zangões), com câmeras acopladas, em perícias.
O projeto ainda não foi para o papel, mas o assunto é pauta do IX Seminário Nacional de Perícias de Acidentes de Trânsito e do XI Seminário Nacional de Perícias de Identificação de Veículos, que ocorrem nesta semana em Porto Alegre.
O argentino Fernando Ferro (à direita) utiliza a tecnologia em Buenos Aires há dois anos
Foto: Omar Freitas, Agencia RBS

- Estamos em fase de testes, mas com certeza vamos propor ao governo. É uma tecnologia que pode auxiliar em exames periciais, crimes ambientais, incêndios - defende o vice-presidente do Sindicato dos Peritos Oficiais da Área Criminal do Estado do Rio Grande do Sul (Acrigs), Cleber Müller.
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Um dos focos do uso da tecnologia, a ser abordado no seminário, é a investigação de acidentes de trânsito. Além de melhorar a precisão das medidas, que hoje são feitas "à mão", com trenas e outros equipamentos, o uso dos drones proporcionaria outras perspectivas dos acidentes. Um software capaz de converter as imagens em 3D auxilia na reconstrução virtual do cenário.
O voo dos zangões cinegrafistas contribuiria, ainda, para agilizar a perícia, que atualmente pode levar entre duas e três horas de trânsito bloqueado nas imediações do acidente.
- Com o drone, não é preciso mais que 10 ou 15 minutos para mapear uma área e capturar as imagens necessárias - explica o perito argentino Fernando Ferro, especialista em fotogrametria e videoanálise.
Palestrante do seminário, Ferro conta que, em Buenos Aires, a tecnologia começou a ser usada há dois anos e hoje conta com diversas aplicações. Seus principais usos, segundo o especialista, são em apreensões policiais, acidentes de trânsito, inundações causadas por fortes chuvas e outras questões ambientais.
O equipamento adotado pelos hermanos chega a 800 metros de altura e pode percorrer uma distância de até dois quilômetros. Por questões de segurança, Ferro costuma manter os drones a, pelo menos, 20 metros das pessoas. As precauções aumentaram a partir do prejuízo: em dois anos, quatro aeronaves não tripuladas foram quebradas em operações. Ninguém se feriu.
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Para o especialista argentino, no entanto, o que mais compromete a segurança das pessoas é a banalização do uso dos drones, que são vendidos para civis e ainda carecem de uma regulamentação mais criteriosa.
- Não é um brinquedo. As empresas tentam vender como um celular, mas não é para todo mundo. É muito fácil perder o controle. Se ele vira uma fonte de acidentes, contradiz sua utilidade - alerta.
Originalmente, as aeronaves não tripuladas e remotamente pilotadas foram desenvolvidas para uso militar, mas civis viram no equipamento uma possibilidade de gerar imagens aéreas em alta definição a um custo reduzido. Em fevereiro, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) apresentou à indústria - há seis fábricas de drones no Brasil, uma delas no Estado - uma proposta de regulamentação, com a promessa de concluir os trâmites ainda em 2014.
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A tecnologia foi utilizada pela primeira vez no Estado em 2013, em uma operação da Polícia Civil que resultou na prisão de 17 pessoas em Eldorado do Sul. O drone utilizado pelos policiais foi emprestado por uma empresa especialmente para a operação.
O diretor do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP-RS), José Cláudio Garcia, vê com bons olhos a movimentação dos peritos para incrementar as investigações, mas adianta que a aquisição dos equipamentos terá de ser avaliada na próxima gestão, que terá início em 2015.
- Tudo que vier a melhorar a perícia, nós temos interesse. Estamos encaminhando o final da gestão, fechando contas, e não temos a pretensão, até o fim do ano, de adquirir (os equipamentos). A próxima gestão que terá de avaliar se a compra é interessante e se haverá condições de investir.
*ZERO HORA