
Era por meio de um aparelho celular e três chips que José Carlos dos Santos, o Seco, comandava uma das quadrilhas mais violentas e especializadas do Estado de dentro da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). A conclusão é da Polícia Civil, que iniciou uma investigação há 11 meses e, nesta quinta-feira, cumpriu 29 mandados de busca e apreensão e 24 mandados de prisão.
- Ele falava quase que 24 horas por dia no aparelho celular, sem constrangimento, com os "cupinchas", como ele mesmo chama - afirma o delegado Juliano Ferreira, titular da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos, responsável pela Operação Trinca-Ferro.
De sua cela individual, em uma das galerias da cadeia que é considerada a mais segura do Rio Grande do Sul, ele orquestrava os crimes de roubo, furto e clonagem de veículos e expandia suas atividades criminosas para o tráfico de drogas, aponta a investigação. Em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, a Polícia Civil identificou uma aproximação do bandido de 35 anos com a facção Bala na Cara, com atuação no comércio de entorpecentes na Região Metropolitana.
- Desde novembro, em nenhum momento ele ficou sem telefone. Aconteceu de, ao longo deste período, ele trocar de aparelho e de chip - explica Ferreira, acrescentando que as ordens eram dadas a pessoas de sua confiança.
O bando tinha integrantes do sexo feminino. A mulher de Seco, Adriana da Silva Santos Moraes, foi presa em Montenegro - ela é apontada como braço direito do criminoso, responsável por transportar entorpecentes. O depoimento confirma que as mulheres eram usadas também para levar armas para os esconderijos e até para assaltar. Michele, mulher de Ninho (Carlos Raimundo Alves Junior) foi reconhecida como participante do roubo de uma caminhonete Nissan.
A Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos identificou cerca de 200 roubos e furtos de veículos em pouco menos de um ano e estima em aproximadamente R$ 1 milhão o valor movimentado pelo bando.
- A maioria desses veículos foi roubada em Porto Alegre. Eles eram vendidos em Santa Catarina, no Paraná e também trocados por entorpecentes no Paraguai - diz o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Eduardo de Oliveira Cesar.
Seco chegou à sede do Deic, em Porto Alegre, por volta das 10h30min desta quinta-feira. Ele prestou depoimento, negando envolvimento nos crimes. Formalmente, também disse que a voz nas escutas autorizadas pela Justiça não é sua.
Foto: Ronaldo Bernardi/Agência RBS

*Zero Hora