O delegado federal aposentado Wantuir Jacini, futuro titular da Secretaria da Segurança Pública, sinaliza com uma proposta aguardada há décadas: estancar a farra dos celulares nas cadeias, um dos principais combustíveis da violência no Estado.
Em entrevista coletiva via Skype, na manhã de terça-feira, de Campo Grande (MS), Jacini garantiu existir meios para sufocar a comunicação entre bandidos responsáveis por crimes que atormentam os gaúchos, como assassinatos, tráfico de drogas, roubos e sequestros.
- É inaceitável que facções operem de dentro dos presídios. Existem meios para coibir a entrada e o funcionamento desses equipamentos. O bloqueio de sinal, o rigor nas revistas pessoais, e outras ações com base em inteligência policial. A partir de janeiro, vamos adotar medidas para bloquear essas iniciativas - afirmou Jacini, que comanda a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Mato Grosso do Sul desde 2007.
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Gaúcho de São Gabriel, mas longe dos pampas há mais de 30 anos, ele aceitou o convite do governador eleito José Ivo Sartori para comandar uma das áreas mais espinhosas. Sorridente, foi questionado por mais de 40 minutos sobre como pretende enfrentar a criminalidade e a crise nas cadeias com efetivos reduzidos que buscam melhores salários em um Estado com cofres raspados. Para a maioria das respostas foi diplomático:
- Tenho de conhecer a realidade atual para poder tomar providências adequadas. As ações necessárias serão adotadas.
Jacini é apontado como um secretário de perfil técnico - e não político. Em oito anos à frente da Sejusp, adotou medidas consideradas relevantes no enfrentamento à criminalidade no MS, entre elas a implantação dos bloqueadores de sinal de telefonia celular nos presídios e a criação de um gabinete voltado ao combate do tráfico na fronteira com Paraguai. Confira a entrevista completa abaixo:
O senhor está há mais de 30 anos longe do Rio Grande do Sul. Qual o seu conhecimento sobre os problemas da segurança pública no Estado?
É aquele que tenho da Polícia Federal em nível nacional, do Colégio de Secretários de Segurança, do Colégio de Secretários de Justiça e do Colégio Nacional de Segurança Pública. Em todos eles, os secretários relatam os seus principais problemas nos Estados. O doutor Michels (Airton Michels, atual secretário) sempre trouxe as questões do Rio Grande do Sul para todos nós.
Como foi a aproximação com o governo Sartori? Como se deu o convite e o que o motivou a aceitá-lo?
O diretor-geral da PF (Leandro Daiello, também gaúcho) conversou comigo. Expôs a situação e, a partir daí, conversamos pessoalmente com o governador eleito e aconteceu o convite.
O senhor vem do Mato do Grosso do Sul, um Estado com 2,6 milhões de habitantes e 10 mil presos. Aqui são mais de 11 milhões de habitantes e 29 mil presos. Como encara esse desafio?
É um grande desafio. Vou contar com o apoio e o trabalho de todos os gaúchos, de toda a imprensa, das instituições policiais.
O senhor enfrenta problemas no Mato Grosso do Sul com homicídios...
Conseguimos reduzir os homicídios, os roubos e os furtos. Apreendemos 230 toneladas de drogas, que representam 80% da droga apreendida no Brasil. Conseguimos resolver 70% dos homicídios, que são números semelhantes a países da Europa. Isso é fruto de múltiplas políticas e ações que foram desenvolvidas. Espero repetir no Rio Grande do Sul essa mesma matriz de gestão.
Mas no Mato Grosso do Sul a taxa de homicídios em 2013 foi maior do que aqui.
Não analisei. Aqui temos 1.660 quilômetros de fronteira seca, permeados por estradas federais, estaduais, municipais e múltiplas cidades. E, nessas cidades, é onde acontece grande parte dos homicídios.
O senhor não revela a idade?
A faixa etária não condiz com a higidez física e com a idade mental.
O senhor é natural de São Gabriel. Qual é a sua relação com a cidade?
Tenho parentes em São Gabriel, em Vila Nova do Sul, na área rural. Nas minhas férias, sempre passo nas estâncias deles.
Em 1999, foi publicado que o senhor seria o mais cotado para ser o diretor-geral da PF pelo então ministro da Justiça, Renan Calheiros, mas foi preterido por ter sido punido com 30 dias de suspensão por conta de uma investigação sobre contrabando de café no Paraná. É verdade?
Não. Realmente, houve uma punição disciplinar que aconteceu em 1984. Eu não fui indicado (para diretor-geral da PF) por causa disso, foi por conveniência da Presidência da República.
Pode revelar o fato que levou a sua punição?
Poxa, uma falta disciplinar de 30 anos atrás? Eu prefiro não falar. Nem lembrava mais disso. Fui superintendente da PF duas vezes, fui coordenador regional no Rio de Janeiro, e diretor-interino da PF após essa punição disciplinar. De modo que a PF reconheceu que eu não deveria ter sido punido ou, então, reconheceu que houve excesso na punição.
Quem é Wantuir Jacini
Natural de São Gabriel, ingressou em 1976 como agente na Polícia Federal em Mato Grosso (antes de o Estado se dividir em dois). No ano seguinte, formou-se em Direito. Em 1980, passou em concurso assumindo como delegado da PF.
Trabalhou em Bagé. Depois, foi transferido para o Rio, onde coordenou a Superintendência da PF entre 1992 e 1994. Nos três anos seguintes, foi superintendente da PF em Mato Grosso do Sul e, de 1997 a 1999, coordenador central de polícia da PF, em Brasília.
De 2000 a 2004, voltou a comandar a PF no Mato Grosso do Sul. Foi coordenador-geral de Segurança Privada da PF, em Brasília, entre 2004 e 2006, e desde 2007 é secretário de Justiça e Segurança Pública no MS, nos governos do PMDB.