
No segundo mandato de Dilma Rousseff, o primeiro time da Esplanada ganha uma função extra: blindar a presidente reeleita. A tarefa de suportar o embate contra uma oposição mais aguerrida influencia na montagem do alto escalão, em especial dos ministros que despacham do Planalto. Afeitos ao enfrentamento, Aloizio Mercadante e Miguel Rossetto surgem como os principais pugilistas do governo.
No palácio e no PT, sobram críticas à falta de peso político da Esplanada nos últimos anos, com muitos quadros técnicos ou de expressão reduzida. Avalia-se que a autonomia limitada de Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti à frente da Casa Civil e das Relações Institucionais facilitou as investidas contra Dilma.
- Reclamavam direto da presidente. Tem de buscar ministros que garantam uma trégua, que atraiam as pauladas e resolvam os problemas - arquiteta um interlocutor presidencial.
O perfil reforça o atual time palaciano. Bigode espesso e temperamento forte, Mercadante segue com as rédeas da Casa Civil. A tendência é de permanência de Ricardo Berzoini nas Relações Institucionais, ponte entre governo e Congresso. Ex-presidente nacional do PT, também auxilia na relação com a sigla.
A dupla deve ganhar a companhia do gaúcho Miguel Rossetto, que troca o Desenvolvimento Agrário pela Secretaria-Geral. Responsável pelo diálogo com os movimentos sociais, a pasta anda apagada pela distância entre Dilma e o atual titular, Gilberto Carvalho.
- A nova composição traz pessoas de autoridade, que são ouvidas quando falam. O governo ganha porta-vozes e melhora a comunicação - afirma o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
Como Rossetto é nome de confiança da presidente, requisitado para o momento mais tenso da campanha, quando defendeu as polarizações vitoriosas com Marina Silva e Aécio Neves, espera-se que ele tenha participação nas decisões de Dilma. A fala firme e alta do gaúcho também é arma para a disputa retórica com a oposição.
De olho em apoios no Congresso Nacional
Quem acompanha a rotina do Planalto tem dúvidas sobre a relação de três ministros territorialistas no dia a dia debaixo do mesmo teto. O time ainda pode receber o reforço discreto de Giles Azevedo. Escudeiro fiel e ex-chefe de gabinete de Dilma, ele é cotado para assumir a Secretaria de Assuntos Estratégicos. Outro nome de envergadura que integrará a Esplanada, o governador baiano Jaques Wagner pode ser preservado no princípio do segundo mandato, pois seria um possível plano B caso Luiz Inácio Lula da Silva não concorra em 2018. O Ministério das Comunicações é visto como um bom local para ele auxiliar na articulação do governo sem enfrentar desgastes.
Na lógica de um primeiro escalão denso, os ministros de partidos aliados precisam enquadrar as bancadas no Congresso ou facilitar o diálogo com setores da economia e de movimentos sociais. A segunda opção pesou na indicação de Armando Monteiro (PTB-PE) para o Desenvolvimento e no convite a Kátia Abreu (PMDB-TO) para a Agricultura. Exigente, porém cordato, o senador carrega o prestígio de ter presidido a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Conhecida por não deixar ataque sem resposta, Kátia preside a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) desde 2008.
Na equipe econômica, Joaquim Levy (Fazenda) é apreciado no mercado e adepto da austeridade, enquanto Nelson Barbosa (Planejamento) tem viés desenvolvimentista. Ambos são considerados cascudos para receber e rebater críticas. Já a capacidade de enquadrar sua bancada deve colocar o Ministério das Cidades, antes ocupado pelo PP, no colo de Gilberto Kassab, cacique do PSD, com 37 deputados.
Cid Gomes era o favorito na Educação, porém pode declinar. O PT mineiro se articula para levar a pasta, por meio do deputado Reginaldo Lopes, reeleito com 310 mil votos. Outra opção para Lopes seria a Ciência e Tecnologia. A sigla ainda permanecerá com a Saúde e tenta tirar Aldo Rebelo do Esporte, diante da resistência do PC do B.
A capacidade da Esplanada acalmar o Congresso passa pelo PMDB, que pede seis ministérios. Moreira Franco deve permanecer na Aviação Civil, Henrique Alves (RN) deseja a Integração, também pretendida por Ciro Gomes (Pros), mas deve seguir para a Previdência. Eduardo Braga (AM) flerta com Minas e Energia, enquanto Eliseu Padilha (RS) é cotado para o Turismo, desde que consiga estreitar laços com deputados, a exemplo do que fez no governo Fernando Henrique, quando comandou os Transportes.