Se o governo não estivesse terminando, o vídeo com os detentos do Presídio Central formando fila para cheirar cocaína teria potencial para derrubar o superintendente da Susepe, Gelson Treiesleben, e até o secretário da Segurança Pública, Airton Michels, O vídeo é um atestado da desmoralização do sistema penitenciário do Rio Grande do Sul.
Não é de hoje que a droga circula nos presídios com a mesma facilidade com que entram telefones celulares. O que faltava era a imagem da festa dos detentos, esperando a sua vez de aspirar a carreira de pó branco.
Um dos maiores conhecedores das entranhas do Central, o juiz Sidinei Brzuska, da Vara de Execuções Criminais da Capital, não se surpreendeu com o vídeo. Brzuska conhece a rotina do presídio e lembra que nos últimos quatro anos foram apreendidos cerca de 60 quilos de drogas no Central. Só uma pequena parte dessa droga foi apreendida com visitantes. O grosso, acredita o juiz, entra pelo mesmo caminho das armas, que não passam pela revista.
O governador Tarso Genro se orgulha de ter começado a desarmar a bomba que é o Central, um dos piores presídios do Brasil, apesar de não ter conseguido esvaziá-lo. O secretário Michels tem convicção de que o esvaziamento do Central é condição para a redução dos índices de criminalidade nas ruas. O futuro secretário Wantuir Jacini terá de dar continuidade ao processo de transferência dos presos para que o Central deixe de ser a universidade do crime em que se transformou ao longo dos anos de domínio das facções criminosas.
A reportagem dos jornalistas Renato Dorneles e Cristiane Bazilio, do Diário Gaúcho, é reveladora do poder das facções que dominam o Central. Nas galerias gerenciadas pelos bandidos, agentes penitenciários e policiais militares não passam de observadores silenciosos. Os repórteres do DG apuraram que, antes da sessão de consumo de cocaína, houve um churrasco para celebrar o Natal.