
Renata Fontoura foi ameaçada de morte e perseguida por um homem com quem teve um breve relacionamento. Marcelly Malta sofreu lesões após apanhar de seguranças de um posto de saúde. E Marina Reidel contabiliza diariamente as denúncias de violência que chegam pelo Disque 100: da garota de programa que teve a saia presa na porta de um carro e foi arrastada por metros após o cliente recusar pagamento até a quem teve atendimento negado em hospital. Três travestis, mas com inúmeros relatos de violação dos direitos humanos que engrossam as estatísticas que creem serem ainda maiores no universo trans no Rio Grande do Sul.
Ameaças e agressões são os crimes mais sofridos por travestis e transexuais no RS
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Autodeclarada a primeira travesti brasileira a conquistar na Justiça o direito de trocar o nome civil, a ativista Marcelly Malta fez da agressão vivenciada uma luta pela dignidade. Além de denunciar os autores do crime, recebeu, seis anos após o fato, a notícia de que os responsáveis teriam de lhe pagar danos morais. Os condenados - a prefeitura de Porto Alegre, por a violência ter ocorrido em um posto de saúde municipal, e a empresa de vigilância pela qual os agressores eram empregados - recorreram da decisão proferida em março deste ano. O recurso ainda não foi a julgamento.
- Hoje, a agressão é mais verbal do que física. Na questão física, as pessoas sabem que realmente são condenadas. Já na questão verbal, pensam que não - diz Marcelly, atualmente aposentada e presidente da ONG Igualdade RS e do Conselho Municipal de Direitos Humanos e Igualdade da Capital.
Coordenadora de Diversidade Sexual da Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos do Estado, a professora Marina Reidel aponta que a maior vulnerabilidade é sofrida por travestis e transexuais que, à margem da formalidade escolar ou do mercado de trabalho, acabam por ganhar a vida com a prostituição:
- Pela nossa condição enquanto seres humanos, muitas de nós estão desprovidas do direito de ir e vir por diversas situações - diz. Às vezes, um tapa dói menos do que um palavrão. O palavrão afeta não só o teu psíquico: afeta a alma.
* Zero Hora