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Futuros alvos da Lava-Jato

Executivo preso tinha forte atuação no RS e relações com Youssef

Alexandrino de Alencar transitava com desenvoltura no meio empresarial gaúcho

RAFAEL ARBEX / ESTADÃO CONTEÚDO
Alexandrino Alencar(c), diretor de Relações Internacionais da Odebrecht chega à Superintendência Regional da Polícia Federal, na zona oeste de São Paulo

Com prisão temporária decretada na sexta-feira, na 14ª fase da Operação Lava-Jato, o carioca Alexandrino de Alencar transitava com desenvoltura no meio empresarial gaúcho. Como executivo da Odebrecht e, antes, no braço petroquímico Braskem, Alexandrino participava de intrincadas negociações, e personificava o grupo no Estado. Mesmo depois que seu nome foi citado no escândalo, como suspeito de intermediar propinas e patrocinar viagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Exterior, não deixou de frequentar reuniões de diretoria do sistema Fiergs/Ciergs e da Federasul.

Em 2007, quando passou a atuar na holding da Odebrecht, diminuiu a frequência das viagens ao Estado, mas não se afastou totalmente. Confidenciou a amigos mais próximos, quando surgiram as primeiras citações na Lava-Jato, que havia se tornado amigo do doleiro Alberto Youssef por conta da proximidade com o padrinho do paranaense, o deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010. Como costumava cultivar relacionamentos, fez o mesmo com Youssef mesmo depois que o doleiro caiu em desgraça.

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A interlocutores mais próximos, contou saber que a Polícia Federal tinha em seu poder mensagens trocadas entre ele e Youssef. Uma das que havia enviado ao paranaense dizia "Saudade!", depois de certo tempo em que não se encontravam. A conexão entre os dois havia sido revelada por Rafael Angulo Lopez, espécie de office boy do doleiro que, ao menos uma vez, teria visitado o escritório de Alexandrino na sede da Odebrecht.

O executivo não escondia a proximidade com o Lula - "falei com ele na semana passada", comentava nos corredores. Também não disfarçava a irritação com a presidente Dilma Rousseff. Na sua opinião, Dilma deveria usar sua autoridade para interferir e frear o ímpeto investigador da Polícia Federal e do Ministério Público Federal - na sua visão, claramente no encalço de Lula.

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Empresários descrevem Alexandrino como uma pessoa obstinada em cumprir a missão que lhe é conferida, disposto a ir até o fim na tarefa de convencer opositores das ideias que defende. Para isso, é mestre em construir relacionamentos e abrir portas.

- Ele gostava de dizer que tomava café da manhã em Salvador, almoçava em São Paulo e jantava em Porto Alegre - lembra um interlocutor.

Na defesa dos interesse da Odebrecht, desdobravase para ter assento na diretoria de entidades empresariais gaúchas. Mesmo morando em São Paulo, era mais assíduo nas reuniões do que porto-alegrenses.

Também foi protagonista na árdua tarefa de vencer resistências à disposição da Braskem de adquirir a Copesul, então central de matérias-primas do polo petroquímico de Triunfo, parte da estratégia da Odebrecht - apoiada pela Petrobras - de dominar o setor no Brasil. Como vice-presidente de relações institucionais da Braskem, comandou o processo que transformou a empresa em monopolista no setor.

No Conselho de Desenvolvimento Social e Econômico (Conselhão) do governo Tarso Genro, advogava negócios que poderiam beneficiar a Odebrecht, como a concessão de serviços de água e saneamento e a construção da ERS-010, ideia travada no Piratini. Rosto da Odebrecht no Estado, despertava o interesse de políticos.

- Era o contato quando alguém queria contribuição da Odebrecht para campanha - conta uma pessoa que transita pelas áreas política e empresarial.

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Relações gaúchas

- Com o nome herdado do avô, almirante e senador durante a República Velha natural de Rio Pardo, Alexandrino de Alencar, nascido no Rio de Janeiro, passou grande parte da infância e adolescência no Exterior, mas também morou em Bagé e em Porto Alegre.

- Na Capital, estudou no Colégio Marista Rosário e se formou em Química na PUCRS em 1970.

- Ingressou no grupo Odebrecht em 1992, já na área petroquímica, e em pouco tempo ascendeu à área de relações institucionais.

- Dez anos depois, teve papel decisivo na formação da Braskem, que tem em Triunfo uma de unidades.

- Quando era ligado à Braskem, dona do polo petroquímico de Triunfo, Alexandrino tinha casa na zona sul de Porto Alegre.

- Era apontado como contato para obter contribuições de campanha, o que lhe rendeu dissabores no Estado. Em 2009, o PSOL divulgou supostos e-mails em que o executivo trataria de doações irregulares para a então candidata do PSDB ao Piratini, Yeda Crusius.

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