
Em entrevista coletiva realizada na manhã desta sexta-feira no Paraná, a Polícia Federal deu detalhes de mais uma fase da Operação Lava-Jato, deflagrada nesta sexta-feira. Na 14ª etapa da investigação, batizada de Operação Erga Omnes, foram cumpridos oito mandados de prisão preventiva, quatro de prisão temporária, nove de condução coercitiva e 38 de busca e apreensão, em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Entre os presos estão os presidentes das construtoras Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo. As empresas estão entre as maiores do país no setor, e há suspeitas de irregularidades em contratos com a Petrobras. Além deles, foram detidos os diretores da Odebrecht Márcio Faria, Alexandrino Alencar e Rogério Araújo, o executivo da AG Flávio Lúcio Magalhães e o executivo da Odebrecht César Ramos Rocha. Paulo Roberto Dalmazzo, também executivo da Odebrecht ainda não foi localizado e já é considerado foragido pela PF.
Além deles, Bernardo Schiller Freiburghaus, que seria o operador da Odebrecht, "cortou os laços" com o Brasil e está na Suíça, salientou a PF. Ele foi incluído na lista de procurados da Interpol. Conforme o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, as duas empreiteiras agiam de forma mais sofisticada no esquema de corrupção e fraude em licitações da Petrobras. O diferencial, de acordo com ele, foi comprovado por meio de pagamentos de propina a diretores da estatal em contas no Exterior.
- Há indicativos suficientes para que fossem pedidas as prisões preventivas - disse o procurador, que citou os diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco como os destinatários dos pagamentos.
De acordo com a PF, há indícios de fraude à licitação, cartel e corrupção em obras públicas fora da Petrobras, como na usina nuclear de Angra 3. No entanto, a operação deflagrada nesta sexta-feira se baseou somente nas irregularidades cometidas na petrolífera.
Propinas de até R$ 720 milhões
Os detidos serão levados para a carceragem da PF, em Curitiba, ainda nesta sexta-feira. De acordo com o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, a propina dos contratos com a Odebrecht seria de R$ 510 milhões, apesar de o número ser "muito especulativo", enquanto a Andrade Gutierrez seria responsável por movimentar outros R$ 210 milhões no esquema. A PF ressaltou, na entrevista, que a Odebrecht tinha "grande poder de influência" na cartelização ocorrida na Petrobras.
- A Odebrecht vem negando as irregularidades, mas documentos provam o contrário. A colaboração esperada de uma empresa que enfrenta um problema como esse deveria ser diferente - disse o delegado.
O Ministério Público Federal (MPF) informou que Suíça, Panamá e Mônaco foram os países usados para movimentação financeira dos suspeitos dessa nova fase da Lava-Jato, com ajuda dos operadores Fernando Soares (o Fernando Baiano) e Mario Frederico de Mendonça Goes. Ambos foram presos em fases anteriores da Lava-Jato. O MPF acredita que as empresas estavam envolvidas "como um todo" na cartelização e fraude de licitações.
Lava-Jato chega a sua 14ª fase; relembre as etapas anteriores da operação:
Saiba quem são os presos da Erga Omnes:
- Marcelo Odebrecht (preventiva): Presidente da Odebrecht
- Rogério Santos de Araujo (preventiva): Executivo da Odebrecht
- Márcio Faria da Silva (preventiva): Executivo da Odebrecht
- Otávio Marques de Azevedo (preventiva): Presidente da Andrade Gutierrez
- João Antônio Bernardes (preventiva): Ex-diretor da Odebrecht
- Alexandrino Alencar (temporária): Executivo da Odebrecht
- Antônio no Pedro Campelo de Souza (temporária): Executivo da Andrade Gutierrez
- Flávio Lucio Magalhães (temporária): Executivo da Andrade Gutierrez
- Cristiana Maria da Silva Jorge (temporária): Prestava consultoria para a Odebrecht
- Elton Negrão (preventiva): Executivo da Andrade Gutierrez
- César Ramos Rocha (preventiva): Executivo da Odebrecht
Teve a prisão preventiva decretada e ainda não foi preso:
- Paulo Roberto Dalmazzo (preventiva): Executivo da Odebrecht
Veja abaixo detalhes da entrevista coletiva:
O que dizem as empreiteiras:
Odebrecht: "A Construtora Norberto Odebrecht (CNO) confirma a operação da Polícia Federal em seus escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro, para o cumprimento de mandados de busca e apreensão. Da mesma forma, alguns mandados de prisão e condução coercitiva foram emitidos. Como é de conhecimento público, a CNO entende que estes mandados são desnecessários, uma vez que a empresa e seus executivos, desde o início da operação Lava Jato, sempre estiveram à disposição das autoridades para colaborar com as investigações."
Andrade Gutierrez: "A empresa informa ainda que está colaborando com as investigações no intuito de que todos os assuntos em pauta sejam esclarecidos o mais rapidamente possível. A Andrade Gutierrez reitera, como vem fazendo desde o início das investigações, que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Operação Lava-Jato, e espera poder esclarecer todas os questionamentos da Justiça o quanto antes."
Os fatos que marcaram a operação: