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Cantada na última apresentação do tenor Luciano Pavarotti, durante a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2006, na Itália, a ária - composição escrita para um solista - Nessun Dorma entrou nesta segunda-feira para o dicionário da política brasileira depois do anúncio da 19ª fase da Operação Lava-Jato, que investiga um esquema bilionário de corrupção na Petrobras. Em português, o termo latino significa "ninguém durma".
O delegado da Polícia Federal (PF) Igor Romário de Paula, no entanto, afirma que a música não inspirou o nome da operação, que, segundo ele, é um recado para aqueles que acham que as investigações arrefeceram:
- O nome fica como dica para quem achou que a Operação Lava-Jato começou a diminuir suas ações e um alerta para quem está envolvido com crime de corrupção no país - afirmou ele, durante coletiva de imprensa na sede da PF em Curitiba (PR).
Apesar de o termo ser conhecido por causa da ópera Turandot, criada em 1926 por Giacomo Puccini e popularizada por Pavarotti há nove anos, a Polícia Federal garante que a inspiração para o nome da 19ª fase da Lava-Jato não está relacionada diretamente com a música. Na ópera, Nessun Dorma refere-se à proclamação da princesa Turandot, determinando que ninguém deve dormir. Na história, todos passarão a noite tentando descobrir o nome do príncipe desconhecido, Caláf, que aceitou o desafio.
- Queremos deixar bem claro que a Lava-Jato vem trabalhando incessantemente. O material relativo à Pixuleco 2 encontra-se numa situação de competência do Supremo Tribunal Federal (STF) e, por isso, não podemos dar continuidade nas investigações na Pixuleco 2. Talvez isso tenha criado uma dificuldade grande e deu a impressão de que a Lava-Jato estava perdendo força - ressaltou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, na mesma entrevista coletiva desta segunda-feira.
Pavarotti interpresta Nessun Dorma:
Dono da Engevix é preso
A PF mira agora contratos da Diretoria Internacional da Petrobras, que costumava realizar operações no Exterior, como aluguel de navios-sonda. Parte da ação desta segunda-feira já seria embasada em revelações de Fernando Soares, o Baiano, lobista que costumava intermediar negociações nesta área internacional da estatal, controlada por pessoas indicadas pelo PMDB.
Entre os presos nesta segunda-feira está José Antunes Sobrinho, um dos donos da empresa Engevix. Ele é suspeito de repassar R$ 765 mil para o ex-presidente da Eletronuclear (ligada ao Ministério das Minas e Energia, controlado pelo PMDB), o vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva - preso em Curitiba desde julho. A propina seria paga pela Engevix para garantir lugar na construção da usina nuclear Angra 3.
Também foi cumprido um mandado de prisão temporária contra João Augusto Rezende Henriques, lobista ligado ao PMDB de Minas Gerais, que teria intermediado pagamento de US$ 20 milhões a pessoas ligadas ao PMDB. O suborno seria referente ao aluguel do navio-sonda Titanium Explorer, operação feita pela Diretoria Internacional da Petrobras.
O negócio teria se concretizado quando o diretor internacional era Jorge Zelada, que também está preso em Curitiba desde o início de julho. A propina teria sido movimentada via contas bancárias em Zurique, na Suíça, e na Cidade do Panamá. O vice-almirante Othon, pivô da ação da Lava-Jato na Eletronuclear, teria recebido R$ 4,5 milhões em propinas para facilitar ingresso do "clube de empreiteiras" na construção de Angra 3.
Entre as beneficiadas estão a Engevix, a Andrade Gutierrez e a UTC. Os investigados teriam intermediado o pagamento de propina no Exterior. Há suspeita de movimentação de R$ 20 milhões por parte de uma empresa de fachada. Esta fase da operação está dividida em dois focos: negócios da Petrobras no Exterior e também da Eletronuclear.
Veja como foram as outras fases da Operação Lava-Jato:
* Zero Hora