
O que a Lava-Jato pode deixar de investigar
Caixa Econômica Federal
O ex-deputado federal André Vargas (ex-PT-PR) foi preso em abril, após delatores terem detalhado negócios que ele intermediou para o doleiro Alberto Youssef. Conforme a Polícia Federal, o empresário Ricardo Hoffman (dirigente da agência de publicidade Borghi Lowe Propaganda e Marketing) ofereceu propina a Vargas para intermediar a contratação da agência por parte da Caixa Econômica Federal. Em contrapartida, a agência fez depósitos de comissões em contas de empresas controladas por Vargas e os irmãos dele, Leon e Milton Vargas. As empresas eram de fachada, sem endereço conhecido. Os negócios sob suspeita com a Caixa somam R$ 50 milhões. Advogados querem que seja retirado da Lava-Jato o caso.
Ministério da Saúde
O mesmo esquema do ex-deputado André Vargas estaria vigorando em contratos de publicidade com o Ministério da Saúde. A suspeita é de que as contratações irregulares de agências de publicidade com esse ministério envolvam R$ 40 milhões. Entre os indícios, estão notas emitidas pelo doleiro Alberto Youssef para empresas de fachada dos irmãos Vargas. Advogados pedem que o caso seja retirado da Lava-Jato.
Usina nuclear
Foi a partir de delação feita por Dalton Avancini, ex-presidente da empreiteira Camargo Corrêa, que a Lava-Jato desencadeou uma de suas mais expressivas ações: contra corrupção nas obras da Usina Nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). O empreiteiro detalhou como o construtor de Angra 3 e presidente da Eletronuclear, o vice-almirante da reserva Othon Pinheiro, teria recebido R$ 4,5 milhões de propinas das empresas vencedoras da licitação da usina. Os repasses eram feitos por meio de empresas intermediárias, algumas funcionando no mesmo endereço e com um só empregado, o que a Justiça Federal considerou lavagem de dinheiro. Othon está preso desde 28 de julho, junto com outros implicados em desvios de dinheiro da estatal. O caso foi retirado da Lava-Jato, por ordem do STF.
Ministério do Planejamento
A Polícia Federal descobriu que a gestão do software para empréstimos consignados para servidores federais, feita pelo grupo Consist, foi efetuada mediante pagamento de propina. Contrato com o Ministério do Planejamento permitiu que a Consist recebesse R$ 3,5 milhões por mês, além de ter acesso a dados de 2 milhões de funcionários públicos, segundo investigadores. O esquema teria movimentado R$ 52 milhões. Milton Pascowitch e o ex-vereador Alexandre Romano (PT), de Americana (SP), seriam os operadores. Eles admitem ter repassado parte da quantia para o tesoureiro nacional do PT na época, João Vaccari Neto. O caso saiu fora da Lava-Jato, por ordem do STF.
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O que a Lava-Jato nem chegou a investigar
Ferrovia Norte-Sul
A Controladoria-Geral da União (CGU) diagnosticou superfaturamento de R$ 89,6 milhões em obras da Ferrovia Norte-Sul entre 2005 e 2011. Parte do prejuízo seria decorrente de pagamento de propina a integrantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Ministério dos Transportes, segundo afirmou Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa, em delação premiada. O caso é investigado, mas deve ficar fora da Lava-Jato.
Hidrelétricas
A PF investiga a construção das usinas de Belo Monte (no Pará) e Jirau (em Rondônia). O motivo é que empresas identificadas como corruptoras na Petrobras são as líderes dos consórcios nessas obras. Em acordo de delação que veio à tona na sexta-feira, a Andrade Gutierrez reconheceu pagamento de propina em Belo Monte. Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa, confirmou em delação que a empresa pagou R$ 100 milhões em propina. Com relação a Jirau, a PF apreendeu no escritório de João Prado (braço direito de Alberto Youssef) planilha identificada como "Demonstrativo de Resultado - Obra Jirau", com a contabilidade da Camargo Corrêa na obra da hidrelétrica construída no Rio Madeira, em Rondônia, financiada em R$ 7,2 bilhões pelo BNDES. Os policiais verificam qual a relação dessa planilha com as irregularidades. A checagem deve ficar fora da Lava-Jato.
BNDES
A Polícia Federal pediu quebra de sigilos de empréstimos no Exterior obtidos por empreiteiras no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A ideia é rastrear contratos de obras de engenharia e infraestrutura dos últimos 20 anos. Ou seja, nos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002), Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 2003-2010) e Dilma Rousseff (PT, 2011 até hoje). Os projetos foram executados pelas mesmas empreiteiras envolvidas em corrupção na Petrobras. A tendência é de que o caso fique fora do âmbito da Lava-Jato.
Dragagens
A Lava-Jato também recebeu dicas de problemas em obras para navegação, por envolverem empreiteiras suspeitas de corrupção na Petrobras. Três dragagens seriam investigadas: no porto de Santos (a cargo da EIT - Empresa Industrial Técnica, suspeita de irregularidades na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco), no porto de Recife (a cargo da Galvão Engenharia, também investigada por corrupção na Petrobras) e no porto de Rio Grande (por envolvimento da Odebrecht em dragagem na qual teria ocorrido superfaturamento).