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A oposição terá maioria na comissão especial do impeachment. A votação secreta, marcada por agressões verbais e físicas entre deputados e quebra de urnas, garantiu a vitória da chapa alternativa sobre a apresentada pelos líderes do governo e deixou a situação da presidente Dilma Rousseff mais delicada.
O risco de afastamento ficou maior. Com 39 das 65 cadeiras da comissão, a chapa Unindo o Brasil (veja quem são todos os integrantes no final da reportagem) tem maioria para emplacar presidente e relator e terá como aprovar um parecer favorável ao impeachment de Dilma, decisão que precisará de 342 votos em plenário.
Um dos patrocinadores da vitória da oposição, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), convocou para esta quarta-feira a sessão que vai eleger mais 26 membros da comissão, todos eles de partidos derrotados, como PT, PC do B, PDT, PR e PRB.
A situação, considerada dramática pelo Palácio do Planalto, foi consolidada em um dia de intensas negociações. Como o governo orientou os líderes da base a indicarem maioria contra o impeachment, houve rebelião em siglas que dispõem de ministérios, porém com bancadas rachadas.
O movimento foi coordenado pela ala anti-Dilma do PMDB, que não aceitou as indicações do líder Leonardo Picciani (RJ), realizadas na segunda-feira. O grupo insurgente apresentou outros oito nomes - total de vagas do partido - que foram eleitos.
A rebelião se estendeu para outras legendas com cargos na máquina federal: PP, PSD e PTB, que também tiveram nomes nas duas chapas que disputaram as vagas na comissão. No PP, o líder Eduardo da Fonte (PE) indicou quatro governistas sem reunir a bancada.
A ala dissidente pressionou para negociar e, como não foi contemplada, apresentou quatro nomes na lista avulsa. O PSB, afastado do governo desde as eleições de 2014, fez uma votação interna que, por 14 a seis, decidiu pela adesão à relação alternativa.
- Essa dissidência surgiu quando ministros chamaram líderes para querer saber quais eram as indicações de cada partido e para fazer com que essa comissão fosse chapa branca, querendo sufocar as vozes das ruas e acabar com o impeachment na calada da noite - disse o deputado Mendonça Filho (DEM-PE).
Cinco gaúchos garantiram vaga como titulares, a maior parte favorável ao impeachment de Dilma: Osmar Terra (PMDB), Luis Carlos Heinze (PP), Jerônimo Goergen (PP), Ronaldo Nogueira (PTB) e Sérgio Moraes (PTB).
Os deputados petistas passaram o dia afirmando que Cunha era um dos articuladores da chapa avulsa. O clima, que já era tenso, conflagrou-se quando o peemedebista abriu a sessão e, antes de responder a questões de ordem, deu início a votação secreta, considerada ilegal pelos governistas.
Houve muito protesto e discussão, já que PT e PC do B defendiam o voto aberto e não aceitavam a chapa alternativa. Cunha ignorou. Parlamentares do PT tentaram impedir o acesso às cabines, o que deu início a uma confusão. Afonso Florence (PT-BA) arrancou duas urnas, houve troca de empurrões e xingamentos. No auge da tensão, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) chamou Cunha de "psicopata". O resultado ficou em 272 votos a 199 a favor do grupo pró-impeachment.
- Estou confiante que o Supremo reverta tudo isso. Foi uma ilegalidade - protestou o líder do governo, José Guimarães (PT-CE).
O PT já adiantou que tentará derrubar a eleição no Supremo Tribunal Federal (STF). É a principal esperança do Planalto, que apostava no controle da comissão para sepultar a ameaça de impeachment. No dia 16, a corte julgará ação do PC do B que pede anulação de todo o processo.
Veja quem são todos os integrantes da chapa 2:
PSB
Fernando Coelho Filho (PE), Bebeto (BA), Danilo Forte (CE), Tadeu Alencar (PE)
PSDB
Carlos Sampaio (SP), Rossoni (PR), Bruno Covas (SP), Nilson Leitão (MT), Paulo Abi-Ackel (MG), Shéridan (RR)
PMB
Major Olímpio (SP)
PPS
Alex Manente (SP)
PSD
Sóstenes Cavalcante (RJ), Evandro Roman (PR), João Rodrigues (SC), Delegado Éder Mauro (PA)
DEM
Mendonça Filho (PE), Rodrigo Maia (RJ)
PMDB
Osmar Terra (RS), Lelo Coimbra (ES), Lucio Vieira Lima (BA), Mauro Mariani (SC), Flaviano Melo (AC), Carlos Marun (MS), Manoel Junior (PB), Osmar Serraglio (PR)
PEN
André Fufuca (MA)
PHS
Kaio Maniçoba (PE)
PP
Jeronimo Goergen (RS), Odelmo Leão (MG), Jair Bolsonaro (RJ), Luís Carlos Heinze (RS)
SD
Paulinho da Força (SP), Fernando Francischini (PR)
PTB
Benito Gama (BA), Sergio Moraes (RS), Ronaldo Nogueira (RS)
PSC
Eduardo Bolsonaro (SP), Marco Feliciano (SP)
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