
Em sua primeira entrevista após deixar o cargo de ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS) negou a relação entre sua saída do governo e o apoio do PMDB ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Com exclusividade para Zero Hora, Padilha explicou que motivos pessoais pesaram na decisão. Ele redigiu a carta de demissão na terça-feira, 1º de dezembro, antes de Eduardo Cunha aceitar o pedido e dar andamento na tramitação do afastamento.
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Padilha só conseguiu falar com a presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira. Ele nega que o vice Michel Temer esteja conspirando para assumir o governo e admite que o PMDB está dividido sobre o impeachment.
Carta de demissão de Padilha
Foto: Guilherme Mazui / Agência RBS

Com a saída da Esplanada, o gaúcho foi convidado por Temer para ocupar a secretaria-executiva da presidência do PMDB. Vai despachar de um gabinete que a presidência do partido tem no Congresso. Confira os principais trechos da entrevista.
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Por que o senhor deixou o governo?
Foi uma questão administrativa. Recebi um programa com uma realidade orçamentária que foi mudando na medida em que a crise chegou. Com os cortes não dei resposta aos compromissos que havia assumido. Tem uma fila de senadores e deputados me cobrando, me sinto constrangido.
O governo derrubou a indicação de um nome defendido pelo senhor para um cargo na Anac. Até que ponto isso pesou na sua saída?
Foi a gota d'água, me senti desautorizado. Não estou reclamando do governo nem da presidente. Foi um conjunto de fatos e tive de me curvar.
Qual a maior frustração nesse período?
Não consegui dar continuidade ao acordo desenhado entre Moreira Franco, Tarso Genro e Infraero de incluir na concessão do Salgado Filho a obrigatoriedade a construção do (novo aeroporto) 20 de Setembro. Sabemos que o Salgado Filho tem data para ficar saturado.
Comenta-se que o senhor vai usar sua experiência em mapear votações a favor do impeachment. Procede?
Bobagem, isso não tem nada a ver com impeachment. Vou me dedicar a organizar o partido para as eleições de 2016 e 2018.
O senhor acredita que a abertura do processo de impeachment passará na comissão e no plenário da Câmara?
É muito cedo para tirar uma conclusão.
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O senhor é a favor ou contra o impeachment?
O PMDB está dividido. Quem tomar a posição de A ou B corre o risco de perder o controle do partido. É preciso afinar a discussão interna diante de um processo que é legal. Essa discussão começa hoje.
Por que o vice Michel Temer não se pronuncia sobre o impeachment?
Porque é preciso respeitar a discussão interna do partido. O partido está dividido.
O senhor teme que fique a imagem de que o vice-presidente está conspirando? Só pode falar em conspiração quem não conhece o Michel ou quem quer desestabilizar o governo. Quem fala isso quer que o governo brigue com o Michel.
Outros ministros do PMDB vão deixar o governo?
Que eu saiba, não.
Michel Temer já negocia com o PSDB apoio em um eventual governo Temer?
Michel não trata de nenhum governo Temer, eu não trato de governo Temer. Historicamente o Michel dialoga com todos os partidos.