
Uma mancha de petróleo tingiu o alto-mar na região de Tramandaí, na noite de quarta para quinta-feira, e reforçou um alerta sobre os riscos de contaminação no litoral do Rio Grande do Sul. O temor de acidentes aumentou no final do ano passado, quando as equipes responsáveis pela conexão dos navios petroleiros às boias da Transpetro foram reduzidas à metade. No começo do ano, a prefeitura de Imbé e o Sindicato dos Petroleiros do Estado (Sindipetro) reclamaram ao Ibama que o corte de pessoal reduziria a margem de segurança.
Um navio descarregava petróleo na monoboia (estação flutuante que recebe o óleo), a seis quilômetros da costa de Tramandaí, quando a área foi afetada por um temporal. O bombeamento foi suspenso, o que ajudou a evitar um desastre mais grave, mas não houve tempo de desconectar o navio do sistema. Romperam-se o cabo de amarração que prende a embarcação e a mangueira que transporta o óleo. Quando isso ocorreu, entrou em ação um sistema de segurança que bloqueou a passagem do combustível. Vazou o petróleo residual que estava no interior da mangueira.
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Segundo a Transpetro, subsidiária da Petrobras, foram derramados 2,5 mil litros. Desde a virada do ano, segundo o Sindipetro, as quatro equipes de seis funcionários terceirizados responsáveis por conectar e desconectar os navios do sistema foram reduzidas para grupos de três trabalhadores. A razão seria baixar custos.
– É uma condição que aumenta o risco porque o nosso mar é difícil para trabalhar – afirma o presidente do Sindipetro, Fernando Maia da Costa.
Um trabalhador com experiência na área petrolífera, que prefere não ser identificado para resguardar sua carreira, avalia que mais funcionários podem desconectar um navio mais rapidamente da monoboia em caso de mau tempo, evitando, em tese, o rompimento dos cabos:
– Sempre foram seis funcionários. Com menos gente, fica mais difícil fazer o trabalho.
O vice-prefeito de Imbé, Luis Henrique Vedovato, diz que foi feita queixa ao Ibama após os cortes. O superintendente regional do Ibama, Clairton Mânica, confirma que recebeu reclamação durante uma reunião, mas alega que ela não foi encaminhada de maneira formal e não levou à abertura de um procedimento. A Transpetro não respondeu a questões enviadas por ZH sobre manutenção de equipamentos, estrutura e treinamento das equipes.
O chefe do departamento de Fiscalização da Fepam, Renato Zucchetti, afirma que o licenciamento atual exige o uso de mangueiras (chamadas de mangotes) mais seguras. Contam com duas camadas e bloqueiam a passagem de óleo em caso de rompimento, o que ajuda a reduzir o risco de desastre. A investigação do incidente vai apurar, entre outras questões, se a operação de descarregamento não poderia ter sido interrompida antes da chegada do mau tempo e por que isso não foi feito.
A demora nas punições é outro fator de risco. O derramamento ocorrido em 2012, que chegou a poluir mais de 3,5 quilômetros da orla de Tramandaí, gerou duas ações na Justiça Federal que seguem tramitando e duas multas no valor de R$ 2,9 milhões. Nenhuma foi paga ainda.
*Colaboraram Jaqueline Sordi e Juliana Bublitz