Foto:Diego Vara

Durante um debate sobre sustentabilidade entre alunos da Escola Estadual Alberto Pasqualini, em Novo Hamburgo, a pergunta de uma estudante intrigou a turma toda:
- Será que daria para construir um sofá, ou até uma casa inteira com todo o lixo aqui da escola?
A resposta não demorou para chegar. Decididos a transformar a dúvida no trabalho científico da disciplina Seminário Integrado, 26 alunos de uma turma de segundo ano do Ensino Médio iniciaram, em março do ano passado, o projeto de uma casa totalmente sustentável, feita apenas com o material descartado no colégio.
Veja mais matérias´sobre educação
Empresa cria bicicleta elétrica com madeira de reflorestamento
Jovem arrecada US$ 2 milhões para retirar plásticos dos oceanos
Um ano e meio depois, com paredes levantadas, telhas em fabricação e a estrutura de 56 metros quadrados montada no pátio da escola, eles não só têm a resposta na ponta da língua, como já colhem os frutos da dedicação. Ao longo do ano, participaram de cinco feiras científicas estaduais voltadas a alunos dos ensinos Médio e Técnico, ganharam prêmios e se preparam para uma experiência internacional. Em novembro, vão expor o projeto na Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura (Cientec), no Peru.
- Tudo começou com a ideia de dar um destino adequado ao lixo doméstico. O trabalho foi todo desenvolvido a partir do que os alunos encontraram nas lixeiras da escola. A dedicação deles é incrível, e por isso está dando certo - conta a professora Merci Kunzler.
Foto:Diego Vara
O primeiro passo, quando a ideia ainda era embrionária, foi escolher os materiais. Ao revirar o lixo, os alunos se surpreenderam com a quantidade de garrafas PET que eram jogadas fora e decidiram transformá-las em paredes. Ao todo, já foram coletadas mais de 8 mil garrafas, destinadas ao revestimento das paredes. Encontrar uma solução para a estrutura que iria sustentar a casa, entretanto, não foi tão simples:
- Pensamos em usar ferro, mas aí teríamos de comprar, e isso ia contra a ideia de sustentabilidade. Então resolvemos usar a madeira de demolição que sobrava dos prédios antigos da escola. Para sustentar a estrutura, construímos a casa no estilo enxaimel, como fizeram os imigrantes alemães, lá no início do século 19 - explica o estudante Marcos Vinicius Oliveira, 17 anos.
Marcos relata que, além do aprendizado que a turma está tendo, eles acreditam que a experiência poderá influenciar o pensamento de outros estudantes:
- Vão se dar conta do monte de lixo que é descartado indevidamente, mas também a quantidade de refrigerante com açúcar que é consumida. Quem sabe, ao olhar a casa, não se conscientizem sobre isso também?
Telhas de caixas de leite reduzem a temperatura

Encabeçando uma das ideias mais inovadoras do projeto, as telhas sustentáveis, os estudantes José Carrasco, 17 anos, e Gustavo do Carmo, 18, afirmam que cada hora extraclasse vale a pena.
Para chegar à fórmula ideal das telhas, foram necessarias muitas tardes de estudo. Com vários protótipos expostos, os jovens explicam que, inicialmente, a ideia era utilizar apenas massa de isopor e caixas de leite e suco, trituradas e misturadas. Pesquisando, entretanto, viram que o projeto poderia ir além. Juntaram o papelão encontrado nas lixeiras, trituraram e, com uma massa de isopor, montaram uma nova estrutura, revestida com caixas de leite inteiras.
- Temos essas caixinhas aos montes por aqui. Quando acrescentadas à telha, fazem uma espécie de manta térmica, que diminui a temperatura da casa. Em teste, vimos que pode diminuir em até 8ºC a temperatura. Além disso, é impermeável e não se deforma com a água. É perfeita para qualquer casa - orgulha-se José.
Os jovens, que ainda aguardam uma resposta da Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul sobre o pedido de incentivo financeiro para ir à Cientec - eles só terão condições de viajar ao Peru com ajuda de custo -, se mostram tão encantados com a invenção que não pretendem se afastar dela tão cedo. Prestes a concluir o Ensino Médio, contam que continuarão indo à escola para auxiliar os estudantes que assumirão a obra.

A lista da obra
Garrafas pet: ao todo, serão necessárias 10 mil garrafas. Os alunos já coletaram oito mil nas lixeiras da escola
Madeiras de demolição: são retiradas dos prédios antigos da própria instituição
Caixas de leite e suco: para cada telha de 1 metro quadrado, são necessárias 46 caixas. Elas também são coletadas
nas lixeiras da escola
Isopor: usado para compor a massa da telha, é recolhido de casas comerciais ou recebido por doações
Argamassa: únicos materiais comprados, a areia e o cimento são fornecidos pela escola. Alunos fazem a mistura