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Autores de roubos com mortes são cada vez mais jovens

Levantamento do Diário Gaúcho mostra que a média de idade dos autores de latrocínio em Porto Alegre caiu de 26,3 anos para 19,6 anos nos últimos cinco anos

Cid Martins

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Giorgio Forgiarini

Fábio Almeida

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Adolescentes foram alvo de operação do Deic contra roubos de veículos em agosto

Enquanto as mulheres são cada vez mais alvos de roubos seguidos de morte, os autores desses crimes são cada vez mais jovens. Em 2011, a média de idade dos presos ou indiciados por latrocínio na Capital era de 26,3 anos. Neste ano, a média caiu para 19,6 anos. Até o final de agosto, pelo menos nove adolescentes foram apreendidos por envolvimento em algum nos latrocínios ocorridos este ano na Capital.

– Eles tomam a frente no crime, mas, pela inexperiência, atacam a vítima já com a arma engatilhada. Com um agravante, muitas vezes sob efeito de drogas, se assustam facilmente. Alguém com o dedo no gatilho, que se assuste com qualquer movimento ou reação da vítima, atira – afirma o delegado Luciano Coelho, titular da 13ª DP.

Enquanto relatava aos policiais o crime que vitimou a estudante Sara Votto Tótaro, 22 anos, morta com um tiro ainda no banco traseiro do carro da família, o adolescente de 16 anos, apontado pela polícia como autor do disparo, era frio. Contava a tragédia daquela família quase como um episódio corriqueiro no seu dia a dia.

– Ao que tudo indica ele atirou no susto, não esperava que houvesse alguém no banco traseiro. Mas depois de cometido o crime, não demonstrou nenhum arrependimento – conta o delegado Luciano Coelho.

Sara foi morta com um tiro disparado por adolescente de 16 anos

Aquele roubo no Bairro Cavalhada parecia seguir o script preferido pelo criminoso. Uma mulher (mãe da Sara) estava no volante do Volkswagen Up. Mas os vidros do carro eram escuros. Havia no veículo ainda o pai e a irmã de Sara. E aí entrou outro elemento explosivo na cena do crime: eram dois adolescentes e dois adultos. Os quatro, segundo o delegado, inexperientes.

Os números que mostram a inexperiência dos criminosos foram apurados pelo Diário Gaúcho ao checar os perfis dos autores apontados em 124 dos pelo menos 135 crimes desse tipo ocorridos em Porto Alegre entre 2011 e agosto de 2016. O diretor do Departamento Regional de Polícia de Porto Alegre, delegado Cléber Ferreira, um dos delegados mais experientes da polícia gaúcha, desabafa:

– Eu nunca vi uma geração tão violenta quanto essa.

Ele considera raros os casos atuais de roubos que não envolvam muita violência. E, ainda que seja mais esperado o susto em ladrões novatos, para ele, os jovens estão mais predispostos a atirar:

– Ele quer aquele bem, mas também quer agredir a vítima. Não basta só roubar. Cada vez mais nos deparamos com vídeos destes assaltos, e a vítima é agredida antes e depois de perder o bem – comenta o delegado.

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A explicação para este comportamento, aponta o promotor da Infância e Juventude, Júlio Almeida, pode estar na impunidade.

– A medida infracional precisa ser proporcional ao ato do jovem, o tempo necessário à ressocialização. Mas temos hoje o mesmo problema do sistema prisional, faltam vagas. O governo precisa disponibilizar mais vagas no sistema. Estes jovens voltam mais rápidos para as ruas – relata.

Em vez de reduzir a maioridade penal, Júlio Almeida defende o aumento do tempo de internação dos adolescentes envolvidos em atos infracionais mais graves. Hoje, o período máximo é de três anos. Este prazo poderia, na proposta do Ministério Público, ser estendido para seis ou oito anos.

– Seria uma solução mais adequada, diferente da redução da maioridade penal, que jogaria os adolescentes no centro das facções. Aí, já sairiam das prisões com novas "encomendas" de roubos – acredita o promotor.

Ele também aponta a necessidade de aumentar a pena pela corrupção de menores, que prevê hoje a prisão de um a quatro anos. Seria uma forma de inibir o adulto que coloca o adolescente na linha de frente dos crimes.

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