
– Perdeu, perdeu, perdeu!
Eram os gritos de um jovem armado, que corria acompanhado de outro, ambos muito nervosos. Os dois abordavam a funcionária pública, de 33 anos, grávida de sete meses, que retirava a filha pequena da cadeirinha no banco traseiro do carro, diante da creche, na zona norte de Porto Alegre. Por alguns segundos, as vidas das duas estiveram, literalmente, nas mãos do assaltante. Ela tentou puxar a bolsa de dentro do carro. E veio a ameaça:
– Não faz isso que eu te mato!
O bandido tinha o dedo cravado no gatilho da arma. Ela ainda conseguiu puxar rapidamente a filha para fora e viu os criminosos fugirem com a bolsa e o veículo.
Por detalhe, a funcionária pública não engrossou a estatística do crime que representou a gota d'água para uma reação das autoridades da segurança pública na semana passada: o roubo que termina com morte.
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Conforme especialistas em segurança, as mulheres nunca estiveram tão expostas a latrocínios – em tese, por oferecerem menor risco de resistência. O levantamento do Diário Gaúcho mostra que, em todo o ano passado, só uma mulher foi vítima nos pelo menos 23 latrocínios registrados em Porto Alegre. Este ano – e só até agosto –, sete mulheres já morreram, em um total de 25 casos. Cinco delas foram atacadas em seus carros.
Desde o início do levantamento, em 2011, o volume máximo de mulheres mortas em assaltos em Porto Alegre havia acontecido em 2013, quando cinco foram assassinadas desta forma durante o ano inteiro.

Foi assim que a vendedora Cristine Fagundes, 44 anos, acabou vitimada quando esperava pelo filho diante da escola, no Bairro Higienópolis, no dia 25 de agosto. Conforme a apuração da polícia, Cristine não reagiu, mas um movimento brusco do veículo teria feito o criminoso se precipitar. A médica Graziela Müller Lerias, 32 anos, também não reagiu no começo da noite de 14 de agosto. Enquanto os bandidos mandavam que entregasse o carro, ela se assustou com um disparo e teve dificuldade para abrir a porta. Acabou alvejada. Em janeiro, Isabel Cristina Grandini Dias, 47 anos, teria o Corsa roubado na Zona Leste da Capital. Demorou para se desvencilhar do cinto de segurança e foi morta com um tiro na cabeça.
– Ao mesmo tempo em que as mulheres são alvos mais vulneráveis para o assaltante, cada vez mais criminosos inexperientes partem para o roubo, sobretudo de veículos, porque o lucro é muito rápido e fácil. Enquanto ele ganharia R$ 100 por dia como vapozeiro, correndo os riscos em uma boca de fumo, o roubo de um carro pode render de R$ 500 a R$ 5 mil a ele. Um celular pode render dinheiro quase imediato – explica o delegado Juliano Ferreira, titular da 19ª DP.
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