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Em 101 páginas, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, expôs ao Supremo Tribunal Federal os motivos que considera fundamentais para que a "Lista Noboa" seja investigada. O documento é a relação de 279 políticos – deputados, senadores, governadores e ex-parlamentares – e de 24 partidos que teriam recebido valores da Odebrecht, maior empreiteira do país envolvida com o esquema de cartel e corrupção que se instalou na Petrobras.
Janot diz que a lista está "relacionada a dezenas de políticos que, supostamente, teriam recebido propina da Odebrecht, ao longo de tempo não determinado". O nome "Noboa" é uma referência à "tática Noboa", anotação encontrada no arquivo de mensagens do celular de Marcelo Bahia Odebrecht, preso desde 19 de junho de 2015 e condenado a 19 anos e quatro meses de prisão pelo juiz federal Sergio Moro.
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Para os procuradores da República que integram a força-tarefa da Lava-Jato, a citação indica que Odebrecht "cogitava se evadir do país e, assim, furtar-se de eventual aplicação da lei penal" – Gustavo Noboa, ex-presidente do Equador (2000/2003), fugiu do país após ser acusado de malversação de fundos na renegociação da dívida externa.
A lista é a maior relação de políticos e partidos associada a pagamentos de uma empreiteira capturada pela Lava-Jato desde o início da operação, há dois anos. Ela foi encontrada em fevereiro nas buscas da 23ª fase, a Acarajé, que teve como alvo principal o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura, que cuidaram das campanhas presidenciais de Lula (2006) e de Dilma (2010/2014). A superplanilha estava na residência do executivo Benedicto Barbosa da Silva Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura.
As anotações, indica a Lava-Jato, referem-se às campanhas eleitorais de 2012 (municipais) e 2014 (presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais). Não há informações sobre quais doações são legais e quais são caixa 2 e, dentre as registradas no Tribunal Superior Eleitoral, quais têm origem em propinas de contratos superfaturados.
Em seu parecer, acolhido pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral da República apontou que o "Setor de Operações Estruturadas" era o braço da empreiteira que cuidava do pagamento de propinas.
Rodrigo Janot destacou trechos da delação premiada da ex-secretária de executivos da Odebrecht, Maria Lucia Guimarães Tavares. "Indicou detalhes da estrutura paralela da Odebrecht, mencionando nomes de pessoas e endereços de entrega de valores que constavam na planilha, o que ensejou diligência nos seguintes alvos: 1) pessoal relacionado ao "Setor de Operações Estruturadas" (denominação do grupo utilizado para a operacionalização dos valores da contabilidade paralela da Odebrecht; 2) executivos da Odebrecht que autorizavam os pagamentos ilícitos; 3) operadores financeiros que disponibilizavam os recursos em espécie; 4) destinatários dos recursos em espécie."