
Uma palavra é a estrela nas investigações da Operação Lava-Jato desde seu início, em março de 2014: propina. Não apenas porque aparece com frequência, mas pelos codinomes que ganhou dos operadores do esquema de desvio na Petrobras – pixuleco, acarajé e, o mais recente, oxigênio.
Após a prisão do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), nesta quinta-feira, veio à tona o termo com que o ex-secretário estadual de Obras Hudson Braga tratava o suborno exigido das empresas em contratos de grandes obras: "oxigênio". Segundo O Globo, o apelido foi relevado nas delações premiadas das empreiteiras Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez.
Conforme as investigações comandadas pela Polícia Federal, que recebeu o nome de Operação Calicute, 7% do valor dos contratos era convertido em propina, cujo pagamento era efetuado em espécie.
Em fevereiro deste ano, descobriu-se que o dinheiro desviado também tinha nome de comida. Segundo as investigações, porções de "acarajé" eram entregues pela ex-funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares a executivos da empreiteira.
Depois de presa, mesmo a PF tendo flagrado e-mails, a secretária disse que levava a tradicional iguaria baiana – mas não colou. Os "acarajés", em porções de 50, seriam supostamente remetidos de Salvador para o Rio de Janeiro e "chegavam quentinhos", conforme relatado nos e-mails analisados. A 23ª fase, quando foram presos o publicitário baiano João Santana e sua mulher, Monica Moura, inclusive foi batizada com o nome do bolinho.
O apelido mais famoso da Lava-Jato, no entanto, é "pixuleco". Sem definição no dicionário, o nome das 17ª e 18ª fases, deflagrada em setembro do ano passado, a palavra mais parecida é "pixulé", termo usado pelo escritor paulista João Antônio no conto Paulinho perna torta como sinônimo de "dinheiro miúdo" que seu personagem recebia como engraxate.
No âmbito da vida real, na Lava-Jato, "pixuleco" está longe de designar pouco dinheiro. Segundo o dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, a gíria era usada pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para se referir à propina que recolhia das empresas a cada novo contrato com a Petrobras. Na primeira das operações Pixuleco, foi preso o ex-ministro do governo Lula José Dirceu.
Além do dinheiro sujo, integrantes do esquema também tinham apelidos
Não só o dinheiro recebeu apelidos. Diversos suspeitos de participar no esquema ganham codinomes e um, em específico, era uma espécie de pronome usado para alguns dos políticos que recebiam propina constantemente. O termo "Band" – numa contração de "bandido" – aparece ao lado dos nomes em planilha elaborada pelo doleiro Alberto Youssef e apreendida pela Polícia Federal com Rafael Angulo Lopez, funcionário que distribuía o d inheiro de propinas.
Criar apelido para propina não é uma originalidade da Lava-Jato. No esquema do Mensalão, o termo usado pelos investigados era "pegar uma encomenda". Já Carlinhos Cachoeira chamava de "assistência social".
No cinema, um dos sinônimos mais conhecidos é o "faz-me rir", que aparece no longa brasileiro Tropa de Elite. Na literatura, o escritor Machado de Assis usou outros dois: "molhadura" e "gorjeta".