Política

Ajuste fiscal

Governo do RS quer incluir imóveis entre as contrapartidas exigidas em programa de ajuda da União

Texto original do Planalto prevê somente venda de estatais das áreas financeira, energia e saneamento entre as exigências do projeto de recuperação fiscal dos Estados endivididados

Péricles Lamartine da Costa

O governo Sartori quer ampliar o leque de setores passíveis de privatização no projeto de recuperação fiscal dos Estados. O texto original, enviado pelo Planalto à Câmara, prevê a venda de estatais das áreas financeira, energia e saneamento, mas o Piratini gostaria de incluir outros ativos, como terrenos e imóveis. O secretário da Fazenda, Giovani Feltes, já conversou sobre o tema com relator da proposta, deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ), que gostou da sugestão.

– Ao abrir para as demais áreas, permitirá ao Estado negociar diretamente com o governo federal seus ativos. Não tem como fazer a recuperação sem vender patrimônio – afirma o relator.

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Interessado na pauta, que beneficia Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), articula com líderes para votar nesta terça-feira. Pedro Paulo avalia que a discussão poderá começar, com votação na quarta-feira. De antemão, admite a necessidade de flexibilizar as contrapartidas.

Para aderir ao programa e ter até seis anos de carência no pagamento da divida com a União, cada Estado terá de implementar medidas de ajuste fiscal. O Piratini considera as exigências duras e prega alterações, já discutidas com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Um dos pedidos é retirar a obrigação de desistir de ações judiciais que questionam a dívida e o veto a novos incentivos fiscais.

No ponto do programa que trata das privatizações, José Ivo Sartori e outros governadores defendem incluir mais ativos. Por ora, o peemedebista colocou à disposição da União três empresas de energia (CEEE, CRM e Sulgás). Com receio de derrota na Assembleia da proposta que libera a venda sem passar por plebiscito, surgiu a ideia dos imóveis. Entre os alvos estão Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e Brigada Militar.

– O valor das empresas de energia pode não ser suficiente para equilibrar as contas – reconhece o líder do governo na Assembleia, Gabriel Souza (PMDB).

O governo do Estado confia que as sugestões serão acatadas, já que não extinguem as contrapartidas, como ocorreu em dezembro. Na ocasião, com o programa desfigurado por deputados, o presidente Michel Temer vetou o texto. Mas a resistência na base às medidas de austeridade preocupa Planalto e Piratini.

– Meu Estado não está em situação crítica, mas votarei a lei. É preciso convencer os demais deputados de que apenas os Estados muito endividados poderão participar do programa – aponta Pauderney Avelino (DEM-AM).

Para o Alceu Moreira (PMDB-RS), um dos entraves está justamente no fato de a proposta interessar apenas a três bancadas. Juntas, contabilizam 130 parlamentares, sendo que haverá dissidências – a soma fica distante dos 257 votos necessários para aprovar a recuperação fiscal.

– Será preciso dar algum atrativo para as bancadas de outros Estados, principalmente do Nordeste – diz Moreira.

Entrevista: Pedro Paulo (PMDB-RJ), deputado federal e relator do projeto da recuperação fiscal dos Estados

Relator do projeto que cria o regime de recuperação fiscal dos Estados, o deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ) admite a necessidade de flexibilizar as contrapartidas exigidas pela União. A estratégia visa superar resistências na base do governo Temer para aprovar a proposta. O peemedebista acredita que será possível votar o tema na quarta-feira.

O senhor vai flexibilizar as contrapartidas exigidas pelo Ministério da Fazenda?
Estamos fazendo mudanças, mas está claro que não há possibilidade de discutir a janela de interrupção de pagamento da dívida com a União sem ajuste profundo nos Estados hiperendividados. Uma mudança que fiz no texto, ouvindo o secretário Giovani Feltes, é nas privatizações, para que os Estados possam pensar em alternativas além das áreas financeira, energia e saneamento.

O senhor aprovou a sugestão?
Ao abrir para as demais áreas, permitirá ao Estado negociar diretamente com o governo federal seus ativos. Nas condições de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, não tem como fazer a recuperação sem vender patrimônio. Isso vai além de questões ideológicas, é uma questão de equacionamento da recuperação fiscal. Não se trata de renegociação de dívida, é um programa para equilibras as contas dos Estados.

O governo gaúcho quer amenizar no projeto a veto a novos incentivos fiscais. Qual a sua posição?
O governador José Ivo Sartori encaminhou uma sugestão de emenda para levar em conta no cálculo as reduções de incentivos feitas nos últimos dois anos. Estou sensível à proposta, acho possível uma harmonização com um pedido do Rio. Quando o Rio firmou um pré-acordo com a União, o termo previa redução anual de 10% dos incentivos. O projeto da recuperação fala em 20%. Reduzindo para 10%, acredito que atenderia ao Rio Grande do Sul.

Deputados da base do governo Michel Temer criticam a exigência de barrar aumentos salariais aos servidores. É um ponto que trava a votação?
É um ponto delicado, porque ficam aptos a entrar no programa Estados com dívida consolidada superior à receita corrente líquida anual e somatório de despesa com pessoal e serviço da dívida superior a 70% dessa receita. Ou seja, a despesa é um elemento central do programa, será difícil negociar com a Fazenda. O Rio, por exemplo, pagou na semana passada o salário de janeiro parcelado. Não faz sentido um Estado que não paga em dia conceder aumento real nos salários. Vale lembrar que o texto permite corrigir a inflação nos salários.

Parlamentares gaúchos e mineiros defendem incluir na discussão as compensações da Lei Kandir. É possível?
Não vou misturar os assuntos no relatório. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, definiu que vai instalar uma comissão para discutir em separado o indexador da Lei Kandir, cumprindo decisão do Supremo Tribunal Federal.

É possível votar o projeto nesta semana?
É possível, porque é o projeto prioritário do governo. Estou em um esforço para construir consenso mínimo e concluir a votação na quarta-feira. Para deputados dos três Estados mais endividados, é um voto doloroso, porque o programa adota medidas duras para os servidores. Deputados de outras bancadas dizem o seguinte: meu Estado não tem esse problema, então, por que vou votar uma medida que aumenta contribuição previdenciária e congela salários? A gente explica que é optativa a entrada, que ninguém é obrigado a entrar no programa.

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