
Em um Salão de Atos da UFRGS praticamente lotado, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) participou como convidada especial da aula inaugural do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da universidade, na tarde desta terça-feira (02). Recebida aos gritos de "Dilma guerreira, mulher brasileira", a ex-chefe do executivo nacional disse estar emocionada em voltar à instituição, criticou Michel Temer e questionou o processo de impeachment que a afastou da presidência no ano passado, defendeu a instalação de uma Assembleia Constituinte no Brasil e saiu manifestou apoio a candidatura de Lula em 2018.
– Me sinto emocionada de voltar aqui na UFRGS mais uma vez. Como vocês, eu compartilho a honra de me formar nesta universidade.
Dilma destacou, mais uma vez, que não existiu base para o processo de impeachment que a afastou da Presidência da República e que Temer cometeu "sincericídio" ao admitir, em entrevista, que Eduardo Cunha só aceitou a abertura do impeachment contra a petista após o governo não garantir votos favoráveis no julgamento do ex-presidente da Câmara no Conselho de Ética da Casa.
– Se isso não foi sincericídio, foi tolice.
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O local da aula inaugural estava quase lotado, com poucos lugares vazios. Em um discurso intercalado por aplausos, a ex-presidente também citou as afirmações do senador Romero Jucá, que deu indícios da necessidade de tirá-la do poder para "estancar a sangria" da Lava-Jato. Ela traçou uma linha do tempo, explicando as tentativas de implementação do neoliberalismo no Brasil e o avanço das políticas sociais nos governos do PT.
– Um dos principais objetivos do golpe foi enquadrar o Brasil no neoliberalismo – disse.
Dilma defendeu a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência em 2018. Conforme ela, Lula está sofrendo ataques de pessoas que querem inviabilizar seu nome na disputa:
– Os ataques geram um crescimento (de Lula) nas pesquisas. Perder uma eleição não é vergonha, mas inviabilizar alguém que não representa o que você quer é a antítese da democracia.
A ex-presidente também atacou a implantação da política de teto de gastos públicos que, segundo ela, só prejudica a população mais carente do país, que necessita de serviços básicos:
– O golpe foi um processo planejado e tira os pobres do orçamento. Eles são os que mais precisam de saúde e educação nesse país – afirmou.
Segundo a petista, a extrema direita e os neoliberais criticam as políticas sociais implementadas pelos governos do PT, tentando desmerecer a importância dessas medidas para enfrentar a desigualdade. Dilma afirmou ainda que, ao "ignorar 54 milhões de votos" que ela recebeu em 2014, o governo e a política se tornam irrelevantes, abrindo espaço para "salvadores da pátria" que usam discursos ignorantes e carregados com preconceito.
– Quando isso acontece, a desigualdade aumenta violentamente. A ignorância destrói a política e, consequentemente, a democracia.
Sem citar nomes, a ex-presidente também cutucou o judiciário brasileiro:
– Não é possível o juiz (Sergio Moro) falar fora dos autos e a mídia virar tribunal. Não é correto o juiz se relacionar com quem vai ser julgado de forma gentil e meiga. Isso não é sério.
A ex-presidente afirmou que o sistema político atual não beneficia a democracia e não pode permanecer da maneira que está . Segundo ela, a mudança deve ocorrer com a abertura de uma nova Assembleia Constituinte:
– Precisamos de uma Constituinte para a reforma política. Temos que mudar isso com pessoas que decidem o rumo da política no Brasil e depois vão para casa e não para o parlamento. Pessoas que não se beneficiam disso (por interesse próprio).
A estudante de Matemática da UFRGS Talessa Reis disse que a presença de Dilma na aula inaugural é importante no meio acadêmico, porque "momentos como esse faltam dentro da universidade".
– Dentro da universidade, ocorre um encontro de saberes. Todo mundo traz uma coisa nova, e a gente acaba esquecendo o que está ocorrendo no país. Foi muito importante trazer isso (palestra da Dilma na aula inaugural) em um momento como esse, para a gente entender o que está acontecendo no país.
Ao fim de sua fala, a ex-presidente recebeu flores de alunas da UFRGS e atendeu alguns participantes do evento, que estavam mais próximos do palco do Salão de Atos. Durante cerca de duas horas de discurso, Dilma foi aplaudida em diversos momentos pela plateia, que não apresentava pontos de protestos contra sua presença – e gritava "Fora Temer" em qualquer deixa da ex-presidente.
– Se me permitirem, vou utilizar a saída à esquerda – disse Dilma ao encerrar seu discurso, ovacionada e aplaudida de pé pelos presentes no recinto.
*ZERO HORA