
Numa decisão envolta em polêmica, a Polícia Federal (PF) confirmou nesta quinta-feira (6) que extinguiu o grupo de trabalho da Lava-Jato em Curitiba. A decisão retira delegados, agentes, peritos e escrivães do regime de dedicação exclusiva à força-tarefa que investiga desvios na Petrobras. Em nota oficial divulgada no início da noite, a força-tarefa da Lava-Jato no MPF do Paraná afirmou que a dissolução do grupo de trabalho prejudica as investigações.
Também em nota oficial, a direção da PF disse que a equipe policial se integra, junto com o grupo de trabalho da Operação Carne Fraca, à Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas (Delecor). "A medida visa priorizar ainda mais as investigações de maior potencial de dano ao erário, uma vez que permite o aumento do efetivo especializado no combate à corrupção e lavagem de dinheiro e facilita o intercâmbio de informações", sustenta o órgão.
A PF diz ainda que o novo contingente terá o reforço de policiais do Espírito Santo, incluindo dois ex-integrantes da própria Lava-Jato, os delegados Márcio Anselmo e Luciano Flores. No auge das investigações em Curitiba, o grupo de trabalho chegou a contar com 11 delegados. Nos últimos meses, esse contingente foi caindo progressivamente. Atualmente, havia quatro delegados trabalhando exclusivamente na operação, cada um conduzindo em média 20 inquéritos. Com a readequação, a PF afirma que a carga de trabalho individual será reduzida e que a partir de agora as investigações terão 70 agentes, 14 peritos e 15 delegados.
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A decisão de integrar a Lava-Jato com a Carne Fraca dentro da Delecor foi atribuída ao coordenador da Lava-Jato no Paraná, Igor Romário de Paula, delegado Regional de Combate ao Crime Organizado no Estado. A medida teve ainda a chancela do Superintendente Regional, Rosalvo Franco. "Desde o início, a Polícia Federal, de forma republicana e sem partidarismos, trabalha arduamente para o êxito das investigações, garantindo toda a estrutura e logística necessária para o esclarecimento dos crimes investigados", afirma a nota da PF.
– Foi uma decisão operacional para readequar o efetivo, sem nenhuma motivação política ou interferência – disse Igor Romário de Paulo em coletiva de imprensa no final da tarde.
O delegado, porém, admitiu que a decisão não foi bem aceita por todos os integrantes do grupo de trabalho. Procurada por Zero Hora, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal não quis se pronunciar.
O fim da dedicação exclusiva à Lava-Jato gerou reações no Ministério Público Federal (MPF). Já na noite de quarta-feira, quando surgiram os primeiros rumores da extinção do grupo de trabalho da PF em Curitiba, o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima vinculou a decisão a uma suposta opção política do governo. "A força-tarefa da Polícia Federal na Operação Lava-Jato deixou de existir. Não há verbas para trazer delegados. Mas, para salvar o seu mandato, Temer libera verbas à vontade", afirmou Lima em postagem nas redes sociais.
Na nota oficial divulgada no início da noite, a força-tarefa do MPF diz que o efetivo da PF "não é adequado à demanda". Citando resultados da investigações, como número de mandados cumpridos e o rastreamento de 21 milhões de transações que envolvem mais de R$ 1,3 trilhão, os procuradores sustentam que "há uma grande lista de materiais pendentes de análise e os delegados não têm tido condições de desenvolver novas linhas de investigação por serem absorvidos por demandas ordinárias do trabalho acumulado". A força-tarefa reconhece a dedicação do superintendente da PF, Rosalvo Franco, e do delegado Igor de Paula, mas classifica a medida como um "evidente retrocesso".
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A LAVA-JATO
Veja os dados da operação na primeira instância:
- 1.765 procedimentos instaurados
- 844 buscas e apreensões
- 210 conduções coercitivas
- 97 prisões preventivas
- 104 prisões temporárias
- 6 prisões em flagrante
- 64 acusação criminais contra 281 pessoas
- 157 condenações, totalizando 1.563 anos de prisão
- 158 acordos de delação premiada
- 10 acordos de leniência
Fonte: lava.jato.mpf.mp.br