
Enquanto pré-candidato do PSDB à Presidência em 2018, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), comentou, em entrevista ao Gaúcha Atualidade nesta quinta-feira (10), a aprovação do texto-base da reforma política. Contrário ao modelo eleitoral do "distritão" e ao fundo público de R$ 3,6 bilhões para financiar as campanhas, o tucano defendeu que a corrida eleitoral seja "mais barata", com menos partidos, voto distrital misto e cláusula de desempenho.
– Com o voto distrital, você torna mais perto o representante do representado. A minha tese é que o vizinho fiscaliza, sabe onde é que mora, padrão de vida, ele tem uma participação maior – afirmou Alckmin.
Leia mais:
O que é o sistema eleitoral aprovado em comissão
Votação de denúncia contra Temer escancara disputa interna no PSDB
A dirigentes do PSB, Alckmin diz que não acredita que Doria disputará prévias pelo PSDB
O governador ainda falou sobre a polêmica propaganda do partido, que diz "O PSDB errou e tem que fazer uma autocrítica. Não adianta pedir desculpas", a relação com o governo Temer e o PMDB, e os ovos arremessados contra o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Ouça e leia a entrevista:
A comissão especial da Câmara aprovou o "distritão" e o fundo eleitoral de R$ 3,6 bilhões para campanhas. O senhor acredita que são as melhores propostas para a reforma política?
Entendo que não. Defendo o voto distrital misto, defendo cláusula de desempenho. Não podemos continuar tendo 35 partidos políticos porque não temos 35 ideologias, e precisamos tornar a campanha mais barata. No caso da campanha majoritária, o mais caro é a televisão. Defendo que só tenha estúdio, não tenha tomada externa. Então, se tornarmos a campanha mais barata, (adotamos) o voto distrital ou misto e cláusula de desempenho, tendo menos partidos e disciplina partidária, partidos mais programáticos, acho que melhora. Agora, o "distritão" é um grande equívoco. Porque enfraquece os partidos ainda mais. Vai ser uma corrida desenfreada pelo Estado inteiro para ver quem são os mais votados independentemente de partido politico. Acho até que pode encarecer a eleição.
Vai ser o fim dos partidos se o "distritão" prosperar?
Não diria que é o fim, mas vai enfraquecer ainda mais um país que vive uma profunda crise de politica partidária. Ninguém gosta de partido. Mas o fato é que em todas as democracias do mundo você precisa organizar a vida politica. E os partidos têm um papel e, eles tendo identidade, você conseguindo identificar o que defendem, os programas, você melhora um pouco esse quadro. E, com o voto distrital, você torna mais perto o representante do representado. A minha tese é de que o vizinho fiscaliza, sabe onde é que mora, conhece o padrão de vida, ele tem uma participação maior.
Uma propaganda do PSDB na TV e nas rádios diz que "O PSDB errou e tem que fazer uma autocrítica. Não adianta pedir desculpas". O partido errou? O senhor concordou com a campanha? Se errou, errou onde?
Não participei da elaboração do programa. É uma campanha polêmica, acho que chama a atenção até para esse fato, destaca conquistas importantes do partido, parece que mostrará a estabilização da moeda, o plano real, o remédio genérico, os agentes comunitários de saúde, enfim, uma participação importante do partido ajudando a vida nacional.
Onde errou? O Aécio é um desses erros? O apoio ao governo Temer é outro?
Em relação ao Aécio, ele próprio já se afastou da presidência do partido e o Tasso Jereissati assumiu. Em relação ao governo Temer, defendi que nós não participássemos, que ajudássemos em todas as medidas que fossem de interesse do país, mas que não precisávamos participar do governo. Não vamos deixar de votar nada do que seja necessário ao país por participar ou não. Mas acho que isso já está superado. Acho que nós temos de preparar um grande projeto para o futuro. A eleição do ano que vem é decisiva, porque um governo eleito pelo voto popular, com legitimidade, tem condição de fazer muito mais para ajudar o Brasil a recuperar o emprego, crescer. O Brasil é um país vocacionado ao crescimento. Vejo com otimismo, acho que gente pode voltar a crescer.
Enquanto governador do maior Estado do país e pré-candidato à Presidência da República, que erros o senhor acha que PSDB cometeu e pelos quais precisa fazer autocrítica diante na nação?
Olha, qual o partido que não cometeu equívocos? Vejo que essa questão de "o PSDB errou" é, no fundo, um ato de humildade. Santo Augustinho dizia: prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me adulam porque me corrompem. Acho que não há ninguém no Brasil satisfeito com a vida política. Não é culpa de A, B ou C, mas é um fato. Para começar a mudar, é preciso começar reconhecendo que o quadro é de grande insatisfação e que é preciso trabalhar para corrigir. O modelo político brasileiro faliu, literalmente. E se nós não reformarmos ou não reformarmos de forma correta, não vai melhorar. É preciso agir nas causas e não nos efeitos.
Hoje, o senhor acha que o partido deve permanecer no governo Temer?
Acho que está superada essa questão. Nós vamos votar as reformas independentemente de estar ou não no governo. Os ministros vão acabar saindo, até porque a maioria deles é candidato. Isso depende do foro íntimo de cada um e do próprio presidente. Quero reafirmar aqui a nossa luta. Ajudamos na reforma trabalhista, acho que ela vai aumentar o número de empregos no Brasil. Quero também dizer que, se Deus quiser, amanhã eu estarei aí em Porto Alegre. Aliás, temos uma boa parceria com o Estado na vacina contra a dengue, que está indo bem aí com a PUCRS, com o centro de pesquisas, também com o nosso governador o Sartori na área agrícola, também com o prefeito Marchezan e, no sábado, vou a Florianópolis.
O senhor vem ao RS para o debate "Brasil de Ideias", da Revista Voto. Mas o senhor é um dos postulantes a presidente, vem alinhavar alianças. Qual é a melhor forma de financiar a campanha eleitoral de 2018? Qual vai ser a política de alianças do PSDB?
Se tivéssemos poucos partidos, até o parlamentarismo, o financiamento público é um caminho. Agora, com o quadro tão pluri e multipartidário, sempre defendi financiamento privado. Em relação, a alianças elas são importantes. Política é equipe, é time. Com quem podemos fazer alianças? Óbvio que não vamos fazer com o PT nem com o petismo, porque somos absolutamente contra a irresponsabilidade fiscal, o populismo. É só olhar a América Latina e ver o que deu isso nos países vizinhos. Vamos fazer também aliança com quem não tiver candidato a presidente. Com quem tiver, você disputa no primeiro turno. E com quem chegar no segundo turno, fazer uma aliança.
No caso do PMDB, se viu uma aproximação do presidente Michel Temer com o prefeito João Doria, que é também uma possibilidade do PSDB para 2018. O PMDB, com o todo o desgaste de Temer, é um parceiro com quem o PSDB gostaria de dividir o palanque em 2018?
O PMDB tem bons quadros. Eu fui do MDB, do velho manda brasa. Claro que o governo sofre de ilegitimidade. Essa é a lógica da democracia. Precisa ter voto. Fui governador sem voto porque o Mário Covas faleceu e assumi o governo. Depois, eu fui três vezes governador com voto. Eleito. É totalmente diferente. Então é claro que o governo sofre um grande problema de falta de legitimidade, o que dificulta a governabilidade.
Sobre a ovada em João Doria: os políticos estão todos submetidos a essa reação com essa crise e de legitimidade. Como o senhor acompanhou isso?
Acho que é natural que acha debate, isso faz parte da vida publica. Agora, a política também deve ser feita com civilidade. Então, jogar ovo, agredir pessoas é prova de quem não tem argumento e parte pra violência. Esse não é o bom caminho, aliás, eu vou trabalhar muito para unir o Brasil, porque uma casa dividida nem sempre dá tão bons resultados.
Em dezembro, PSDB fecha o nome a presidente, certo?
Isso mesmo. Não precisa ser agora, mas também não pode ser improvisado, de última hora. Essas coisas precisam ser feitas com antecedência. O Brasil é um país continental, precisa haver boas propostas, programas, ouvir, debater. Então, o prazo deve ser dezembro.