
De estudante com tempo para navegar na internet a representante de vendas, de moderador em comunidades a consultor itinerante, de famoso virtual a amigo de poucos: em 10 anos, a vida de personagens destacados no Orkut mudou muito. Quem reunia os amigos em grupos movimentados em 2004 hoje tem dedicado menos tempo a manter páginas em ordem, mas sabe bem o quanto as relações pessoais mudaram desde então.
O Orkut, que saiu do ar em 30 de setembro, deixou sua marca em cada pessoa que hoje usa os diversos meios online para cultivar amizades, procurar emprego, discutir os mais diversos assuntos. Entre eles, quatro personagens de uma reportagem publicada em 15 de agosto de 2004 no caderno Donna, precursores de algumas comunidades relacionadas ao Estado e que hoje mantêm perfis em diferentes redes. Procurados por ZH, contaram que têm se envolvido de maneira menos profunda - e mais frequente - nas redes.
Veja como foi a repercussão no Twitter sobre o fim do Orkut
Rodrigo Missiaggia, 40 anos, morador de São Paulo e fundador da comunidade Rio Grande do Sul no Orkut é um deles. Agora trabalhando como arquiteto de soluções em uma empresa de tecnologia, demonstra alguma saudade daqueles anos.
- No Orkut, você só adicionava pessoas com quem já tinha um relacionamento. Hoje, a interação é tanta que acaba desgastando as relações - reflete.
Como muitos de seus amigos - e milhares de outros usuários -, Rodrigo acabou encerrando a conta e se focando em outras redes sociais. Ele calcula que tenha sido há três ou quatro anos, quando foi a vez do Facebook se popularizar no Brasil: o número saltou de 8,8 milhões de usuários em 2010 para 35 milhões em 2011 - um crescimento de 298%.
A aposentadoria do amigo "astronauta"
As funcionalidades da primeira rede social de muitos brasileiros acabaram se pulverizando em outros serviços. Conversas com amigos migraram para o Facebook - também palco de discussões -, recados rápidos são hoje dados pelo Twitter, enquanto relações profissionais, nicho pouco explorado no Orkut, têm lugar no LinkedIn.
- Quando comecei, via o Orkut só como uma maneira de encontrar pessoas - diz João Dullius, 33 anos, que criou a comunidade do Colégio Rosário, a maior de escolas da Capital em meados de 2004. - A ideia era reencontrar os colegas, e o site supria perfeitamente essa necessidade de contato com quem não víamos.
Depois de morar nos EUA e trabalhar em São Paulo e Curitiba, o consultor de negócios Guilherme Louzada, 29 anos, tem aproveitado as facilidades da tecnologia para manter contato com quem conheceu longe da zona sul de Porto Alegre - tema da comunidade que ele criou nos primórdios do Orkut. Ele analisa a evolução das redes sociais ao destacar a maneira como dava parabéns aos amigos aniversariantes: antes, por telefone, depois, e-mail, Orkut, MSN e Facebook, agora, WhatsApp.
- Mantenho as relações com amigos que conheci bem longe daqui como se fossem meus vizinhos - diz Guilherme. - Quando reencontro eles, as novidades nem são tão novas assim.
Se há aqueles que sentem falta do Orkut, há quem siga o caminho contrário - e tenha decidido reformular sua participação online. Sensação durante os primeiros anos da rede social, Roger Jones não lembra em nada o "astronauta" do Orkut, perfil com milhares de amigos que participava de tantas comunidades quanto podia.
- Na época eu usava a rede social de forma anárquica - conta ele, hoje servidor público na prefeitura de Porto Alegre. - Achei aquilo tudo muito divertido, mas sabia que era efêmero.
Aos 49 anos, Roger não tem mais disposição para essa brincadeira. Hoje, usa o Facebook como a maior parte dos usuários: nada de adicionar desconhecidos, alimentar a curiosidade sobre quem ele é ou participar de grupos em que sequer tem interesse. É, pela primeira vez, um perfil realmente seu.
- Me tornei o cara que tinha mais comunidades, mais contatos, bati todos os recordes, tudo para me divertir. Criei um personagem virtual que, por incrível que pareça, as pessoas ainda lembram 10 anos depois - revela.